¿Que es una ETNIA?
Dada la gran cantidad de etnias y grupos que habitan el continente africano, es necesario aclarar algunos conceptos para comprender mejor la complejidad de Africa negra:
ETNIA:
Una etnia (del griego έθνος ethnos, "pueblo" o "nación") es una población humana en la cual los miembros se identifican entre ellos, normalmente con base en una real o presunta genealogía y ascendencia común, o en otros lazos históricos. Las etnias están también normalmente unidas por unas prácticas culturales, de comportamiento, lingüística, o religiosas comunes.Dichas comunidades comúnmente reclaman para sí una estructura social, política y un territorio.
Aunque generalmente, el término "etnia" se usa a veces erróneamente como un eufemismo para raza, o como un sinónimo para grupo minoritario. La diferencia entre estos términos radica en que mientras el término etnia comprende los factores culturales (nacionalidad, afiliación tribal, religiosa, fe, lengua, o tradiciones) y biológicos de un grupo humano, la raza específicamente alude a los factores morfológicos distintivos de esos grupos humanos (color de piel, contextura corporal, estatura, rasgos faciales, etc.) desarrollados en su proceso de adaptación a determinado espacio geográfico y ecosistema (clima, altitud, flora, fauna, etc.) a lo largo de varias generaciones. Así, la palabra "raza" es solo un concepto que ha sido asociado al de etnia.
Lingüística La lengua suele ser utilizada como primer factor clasificador de los grupos étnicos, sin embargo esta herramienta no ha estado exenta de manipulación política o error. Se debe señalar que existe gran número de lenguas multiétnicas a la par que determinadas etnias son multilíngües.
Cultural
La delimitación cultural de un grupo étnico respecto a los grupos culturales de frontera, se hace dificultosa para el etnólogo, en especial en lo tocante a grupos humanos altamente comunicados con grupos vecinos. Elie Kedourie es quizás el autor que más ha profundizado en el análisis de las diferencias entre etnias y culturas.
Generalmente se aprecia que los grupos étnicos comparten un origen común, y tienen una continuidad en el tiempo, es decir, una historia o tradición común y proyectan un futuro como pueblo. Esto se alcanza a través de la transmisión generacional de un lenguaje común, unas instituciones, unos valores y unos usos y costumbres que los distinguen de otras etnias.
Si bien en determinadas culturas se entremezclan los factores étnicos y los políticos, no es imprescindible que un grupo étnico cuente con instituciones propias de gobierno para ser considerado como tal. La soberanía por tanto no es definitoria de la etnia, si bien se admite la necesidad de una cierta proyección social común.
Genética
Es importante considerar la genética de los grupos étnicos si debemos distinguirlos de un grupo de los individuos que comparten únicamente características culturales. Las etnias generalmente se remiten a mitos de fundación que revelan una noción de parentesco más o menos remoto entre sus miembros. La genética actual tiende a verificar la existencia de esa relación genética, si bien las pruebas están sujetas a discusión.
EN AFRICA HABITAN HOY MAS DE 800 ETNIAS.
Os iorubás ou iorubas
(em iorubá: Yorùbá), também conhecidos como ou yorubá (io•ru•bá) ou yoruba, são
um dos maiores grupo étno-linguístico ou grupo étnico na África Ocidental,
composto por 30 milhões de pessoas em toda a região. Constituem o segundo maior
grupo étnico na Nigéria, com aproximadamente 21% da sua população total.
Origem
As lendas contam que Ilé-Ifé teria sido o próprio berço da humanidade. Ali Todos os povos e reinos descenderiam do deus-rei Odudua, fundador da cidade sagrada. Outra lenda diz que Odudua seria o condutor de uma gente vinda do Leste.
Após a fundação da cidade sagrada o povo teria se espalhado pela região e tomou forma final por volta do final do primeiro milênio. Possível época da fundação de Oyo, capital política dos iorubas. Cidades independentes com seus governantes, camponeses. O Senhor do reino ratificava o poder dos mandantes de cada cidade que era chamado de Bale e tinha a assembléia dos notáveis, que era na realidade a detentora da autoridade. O guarda muralhas, em geral era um mágico, o babalaô, que recolhia os impostos. Uma aristocracia improdutiva controlava as armas, o poder político, o comércio local, nacional e internacional.
As comunidades iorubas que se desenvolveram principalmente no sudeste da atual Nigéria constituíram um dos grandes centros civilizatórios da Guiné e chegaram a influenciar outras civilizações da região, como o reino de Benin. Esta irradiação cultural não se restringiu apenas ao continente africano.
A maioria dos iorubás vivem em grande parte no sudoeste da Nigéria; também há comunidades de iorubás significativas no Benin, Togo, Serra Leoa, Cuba e Brasil. Os iorubás são o principal grupo étnico nos estados de Ekiti, Kwara, Lagos, Ogun, Ongo, Osun, e Oyo. Um número considerável de iorubas vive na República do Benin, ainda podendo ser encontradas pequenas comunidades no campo, em Togo, Serra Leoa, Brasil e Cuba.
Milhares de iorubas escravizados foram desembarcados no Brasil, fecundando a cultura e a história do nosso país. Uma explicação plausível sobre a gênese do povo ioruba, seria as diversas migrações através das regiões entre o Lago Chade e o Níger.
Bem como tendo acesso ao mar, eles compartilham fronteiras com os Borgu (variadamente chamados Bariba e Borgawa) no noroeste, os Nupe (que eles chamam muitas vezes, "Tapa") e os Ebira no norte, os Edo que também são conhecidos como Bini ou povo benin (não-relacionado com o povo da República do Benin), e os Ẹsan e Afemai para o sudeste. Os Igala e outros grupos relacionados, encontram-se no nordeste, e os Egun, Fon, e outros povos de língua Gbe no sudoeste. Embora a maioria dos iorubás vivam no oeste da Nigéria, há também importantes comunidades yorubás na República do Benin, Gana e Togo.
A maioria dos iorubás são cristãos, com os ramos locais das igrejas Anglicana, Católica, Pentecostal, Metodista, e nativas de que são adeptos. O islamismo inclui aproximadamente um quarto da população iorubá, com a tradicional religião iorubá respondendo pelo resto. Os iorubas têm uma história urbana que data de 500 d.C. As principais cidades iorubás são Lagos, Ibadan, Abeokuta, Akure, Ilorin, Ogbomoso, Ondo, Ota, Shagamu, Iseyin, Osogbo, Ilesha, Oyo e Ilé-Ifè.
Arte
Origem
As lendas contam que Ilé-Ifé teria sido o próprio berço da humanidade. Ali Todos os povos e reinos descenderiam do deus-rei Odudua, fundador da cidade sagrada. Outra lenda diz que Odudua seria o condutor de uma gente vinda do Leste.
Após a fundação da cidade sagrada o povo teria se espalhado pela região e tomou forma final por volta do final do primeiro milênio. Possível época da fundação de Oyo, capital política dos iorubas. Cidades independentes com seus governantes, camponeses. O Senhor do reino ratificava o poder dos mandantes de cada cidade que era chamado de Bale e tinha a assembléia dos notáveis, que era na realidade a detentora da autoridade. O guarda muralhas, em geral era um mágico, o babalaô, que recolhia os impostos. Uma aristocracia improdutiva controlava as armas, o poder político, o comércio local, nacional e internacional.
As comunidades iorubas que se desenvolveram principalmente no sudeste da atual Nigéria constituíram um dos grandes centros civilizatórios da Guiné e chegaram a influenciar outras civilizações da região, como o reino de Benin. Esta irradiação cultural não se restringiu apenas ao continente africano.
A maioria dos iorubás vivem em grande parte no sudoeste da Nigéria; também há comunidades de iorubás significativas no Benin, Togo, Serra Leoa, Cuba e Brasil. Os iorubás são o principal grupo étnico nos estados de Ekiti, Kwara, Lagos, Ogun, Ongo, Osun, e Oyo. Um número considerável de iorubas vive na República do Benin, ainda podendo ser encontradas pequenas comunidades no campo, em Togo, Serra Leoa, Brasil e Cuba.
Milhares de iorubas escravizados foram desembarcados no Brasil, fecundando a cultura e a história do nosso país. Uma explicação plausível sobre a gênese do povo ioruba, seria as diversas migrações através das regiões entre o Lago Chade e o Níger.
Bem como tendo acesso ao mar, eles compartilham fronteiras com os Borgu (variadamente chamados Bariba e Borgawa) no noroeste, os Nupe (que eles chamam muitas vezes, "Tapa") e os Ebira no norte, os Edo que também são conhecidos como Bini ou povo benin (não-relacionado com o povo da República do Benin), e os Ẹsan e Afemai para o sudeste. Os Igala e outros grupos relacionados, encontram-se no nordeste, e os Egun, Fon, e outros povos de língua Gbe no sudoeste. Embora a maioria dos iorubás vivam no oeste da Nigéria, há também importantes comunidades yorubás na República do Benin, Gana e Togo.
A maioria dos iorubás são cristãos, com os ramos locais das igrejas Anglicana, Católica, Pentecostal, Metodista, e nativas de que são adeptos. O islamismo inclui aproximadamente um quarto da população iorubá, com a tradicional religião iorubá respondendo pelo resto. Os iorubas têm uma história urbana que data de 500 d.C. As principais cidades iorubás são Lagos, Ibadan, Abeokuta, Akure, Ilorin, Ogbomoso, Ondo, Ota, Shagamu, Iseyin, Osogbo, Ilesha, Oyo e Ilé-Ifè.
Arte
Escultura cabeça de
bronze
Yoruba, Ife, Nigéria.
Os Yorubas do Sul da África Ocidental (República do Benin, Nigéria e Togo, incluindo também peças de Gana, Camarões e Serra Leoa), tem uma muito rica e vibrante comunidade artesanal, criando arte contemporânea e tradicional. O costume de arte e artesãos entre o Yoruba é profundamente assinalado no corpo literário Ifá que indica os orixás Ogun, Obatala, Oxum e Obalufon como central à mitologia de criação inclusive a obra artística (isto é a arte da humanidade) Ao longo dos anos, muitos já vieram cruzar idéias estrangeiras da obra artística e arte contemporânea com as formas de arte tradicionais encontradas na África Ocidental.
Língua
O iorubá ou ioruba (Èdè Yorùbá, "idioma iorubá") é um idioma da família linguística nigero-congolesa, e é falado ao sul do Saara, na África, dentro de um contínuo cultural-linguístico, por 22 milhões a 30 milhões de falantes.
A língua iorubá vem sido falada pelo povo iorubá há muitos séculos. Ao lado de outros idiomas, é falado na parte oeste da África, principalmente na Nigéria, Benim, Togo e Serra Leoa.
No continente americano, o iorubá também é falado, sobretudo em ritos religiosos, como os ritos afro-brasileiros, onde é chamado de nagô, e os ritos afro-cubanos de Cuba (e em menor escala, em certas partes dos Estados Unidos entre pessoas de origem cubana), onde é conhecido também por lucumí).
Pesquisas
Segundo diversos pesquisadores o termo iorubá é recente. Segundo Biobaku, aplica-se a um grupo linguístico de vários milhões de indivíduos. Ele acrescenta que, "além da [língua] comum, os iorubas estão unidos por uma mesma [cultura] e tradições de sua origem comum, na cidade de Ifé, mas não parece que tenham jamais constituído uma única entidade política, e também é duvidoso que, antes do século XIX, eles se chamassem uns aos outros por um mesmo nome". A. E. Ellis mencionou-o, judiciosamente, no título do seu livro The Yorùbá speaking people ("O povo que fala iorubá"), dando a significação de língua a uma expressão que teve a tendência a ser posteriormente aplicada a um povo, a uma expressão ou a um território. Antes de se ter conhecimento do termo iorubá, os livros dos primeiros viajantes e os mapas antigos, entre 1656 e 1730, são unânimes em chamar Ulkumy ou Ulcuim, com algumas variantes. Depois de Snelgrave, em 1734, o termo Ulkumy desapareceu dos mapas e é substituído por Ayo ou Eyo (para designar Oyo).
Francisco Pereira Mendes, em 1726, comandante do forte português de Ajudá, já mencionava em seus relatórios enviados à Bahia os ataques dos ayos contra os territórios de Agadjá, rei de Daomé chamado de "o Revoltoso" por haver atacado Allada em 1724, e que iria, posteriormente, conquistar Uidá, em 1727. Foi esse povo, chamado atualmente uidá (glébué para os daomeanos, igéléfé para os iorubás, ajudá para os portugueses, juda ou grégoy para os franceses, Whidah para os ingleses e fida para os holandeses) e habitado pelos hwéda, que se tornou o principal ponto de exportação dos escravos originários das regiões vizinhas, inimigos do Daomé.
Nok era uma civilização existente no norte da Nigéria que, no século V
a.C. dominava a metalurgia.
O seu extenso legado constitui aquilo que se chama a Cultura Nok. Por razões desconhecidas, esta cultura desvaneceu-se por volta do século II ou III da nossa era.
Eram principalmente agricultores sedentarizados que cultivavam o inhame (para alimentação) e produziam óleo de palma, sendo provável que não criavam gado. Parecem ter sido pioneiros também na metalurgia, já que foram os primeiros ao sul do Sara a fundir o ferro. “A língua Nok estava possivelmente ligada à dos Protobantos, que enxameavam toda a África Central e Meridional. (...) Precedendo de vários séculos a cultura de Ifé, a civilização de Nok constitui um elo essencial para o conhecimento da antiquíssima história do continente africano. Nada se sabe sobre como terá desaparecido esta cultura, se de forma brutal ou na sequência de um progressivo declínio.” Os Nok habitaram uma ampla área de “480 quilómetros por 160 quilómetros” a norte da confluência do rio Níger com o Benué, entre cerca de 500 e 200 a. C.
A civilização de Nok é sucedida pela Iorubá, que a partir da cidade de Ifé fundaram várias cidades-estado.
Cultura Nok
Desenvolveu-se durante a Idade do Ferro no período de 500 a.C. e 200 d.C.
Na Idade do Ferro usavam cobre, estanho, bronze e ferro para produzirem seus artefatos com mais resistência, na Civilização Nok não foi diferente, fabricavam lanças, machados, artefatos de metais, vasos, esculturas, estátuas e outros de barro e cerâmica. Demonstravam toda a arte africana em seus adereços.
Arte Nok
A sua arte tem algumas características que se devem assinalar. Os Nok representaram pessoas e animais. As cabeças humanas são modeladas segundo as formas geométricas em uso: esféricas, cónicas e cilíndricas; são em tamanho quase natural e as feições são estilizadas. “As cabeças humanas, mesmo quando mostram alguma tendência para o naturalismo, nunca são retratos. Em contrapartida, os animais são tratados de forma realista, o que leva a pensar que as representações humanas se afastam da realidade voluntariamente e não por falta de habilidade dos artistas.” De fato, há estudiosos que sugerem que existia uma recusa em fabricar retratos, pois o modelo poderia ficar exposto à ação de forças maléficas. Ainda assim, há uma preferência pela representação humana, embora tenham aparecido elefantes, macacos, serpentes e carraças.
A Cabeça de Jemaa
A peça considerada mais importante da cultura Nok é a Cabeça de Jemaa, descoberta em 1942. Modelada em forma esférica, a cara é uma superfície lisa, com olhos triangulares e nariz pouco saliente a que adere o lábio superior; os olhos, o nariz e a boca são perfurados e as orelhas estão “no ângulo do maxilar”.
A Arte Antiga da Nigéria
A arte Nok precedeu o aparecimento de outras manifestações importantes na Nigéria, como os bronzes de Igbo-Ukwu (IX-X d. C.), os mais antigos da África Ocidental; as referidas estátuas de Ifé (desde, pelo menos IX d. C. até XIV ou XV), em terracota e bronze, os únicos retratos da África Negra, representando monarcas e dignitários; as terracotas de Owo (entre Ifé e Benim), pelo século XIV, de temas macabros; e, já no Benim, estátuas e ornamentos em bronze e adereços cerimoniais de marfim.
No mapa podem ver-se a meseta de Bauchi e Jos, sítio perto do qual fica Nok, no centro país; Ife no sudoeste; Owo a sudeste de Ife; e Lagos - a capital, onde o Museu Nacional guarda estas peças arqueológicas - a sudoeste de Ife e Owo.
O seu extenso legado constitui aquilo que se chama a Cultura Nok. Por razões desconhecidas, esta cultura desvaneceu-se por volta do século II ou III da nossa era.
Eram principalmente agricultores sedentarizados que cultivavam o inhame (para alimentação) e produziam óleo de palma, sendo provável que não criavam gado. Parecem ter sido pioneiros também na metalurgia, já que foram os primeiros ao sul do Sara a fundir o ferro. “A língua Nok estava possivelmente ligada à dos Protobantos, que enxameavam toda a África Central e Meridional. (...) Precedendo de vários séculos a cultura de Ifé, a civilização de Nok constitui um elo essencial para o conhecimento da antiquíssima história do continente africano. Nada se sabe sobre como terá desaparecido esta cultura, se de forma brutal ou na sequência de um progressivo declínio.” Os Nok habitaram uma ampla área de “480 quilómetros por 160 quilómetros” a norte da confluência do rio Níger com o Benué, entre cerca de 500 e 200 a. C.
A civilização de Nok é sucedida pela Iorubá, que a partir da cidade de Ifé fundaram várias cidades-estado.
Cultura Nok
Desenvolveu-se durante a Idade do Ferro no período de 500 a.C. e 200 d.C.
Na Idade do Ferro usavam cobre, estanho, bronze e ferro para produzirem seus artefatos com mais resistência, na Civilização Nok não foi diferente, fabricavam lanças, machados, artefatos de metais, vasos, esculturas, estátuas e outros de barro e cerâmica. Demonstravam toda a arte africana em seus adereços.
Arte Nok
A sua arte tem algumas características que se devem assinalar. Os Nok representaram pessoas e animais. As cabeças humanas são modeladas segundo as formas geométricas em uso: esféricas, cónicas e cilíndricas; são em tamanho quase natural e as feições são estilizadas. “As cabeças humanas, mesmo quando mostram alguma tendência para o naturalismo, nunca são retratos. Em contrapartida, os animais são tratados de forma realista, o que leva a pensar que as representações humanas se afastam da realidade voluntariamente e não por falta de habilidade dos artistas.” De fato, há estudiosos que sugerem que existia uma recusa em fabricar retratos, pois o modelo poderia ficar exposto à ação de forças maléficas. Ainda assim, há uma preferência pela representação humana, embora tenham aparecido elefantes, macacos, serpentes e carraças.
A Cabeça de Jemaa
A peça considerada mais importante da cultura Nok é a Cabeça de Jemaa, descoberta em 1942. Modelada em forma esférica, a cara é uma superfície lisa, com olhos triangulares e nariz pouco saliente a que adere o lábio superior; os olhos, o nariz e a boca são perfurados e as orelhas estão “no ângulo do maxilar”.
A Arte Antiga da Nigéria
A arte Nok precedeu o aparecimento de outras manifestações importantes na Nigéria, como os bronzes de Igbo-Ukwu (IX-X d. C.), os mais antigos da África Ocidental; as referidas estátuas de Ifé (desde, pelo menos IX d. C. até XIV ou XV), em terracota e bronze, os únicos retratos da África Negra, representando monarcas e dignitários; as terracotas de Owo (entre Ifé e Benim), pelo século XIV, de temas macabros; e, já no Benim, estátuas e ornamentos em bronze e adereços cerimoniais de marfim.
No mapa podem ver-se a meseta de Bauchi e Jos, sítio perto do qual fica Nok, no centro país; Ife no sudoeste; Owo a sudeste de Ife; e Lagos - a capital, onde o Museu Nacional guarda estas peças arqueológicas - a sudoeste de Ife e Owo.
As costas africanas do oceano índico são povoadas por uma civilização
extremamente rica e complexa, os swahili, conjunto de grupos étnicos
articulados por uma língua e uma série de elementos culturais que fundem as
tradições africanas, o islã, a cultura indiana, entre outras.
Língua Swahili
No século IX, fundaram cidades pela costa oeste da África, que deram lugar a uma civilização arábe-bantú, a qual desenvolveu um novo idioma: o KiSwahili – também chamado de Swahili.
Tal língua nasceu da mistura entre a gramática bantú (pertencente aos bantos ou povos bantu – povo de raça negra sul-africana) e o vocabulário árabe. Inicialmente, escrevia-se com caracteres arábicos.
A língua bantú tem origem na área da Nigéria e Camarões, na África Ocidental... segundo explicação de um selo alusivo ao Início da Hístória Sul-africana...
A palavra “Swahili” é uma derivação do plural “Sahel” – palavra árabe que significa costa. Bem mais tarde, adaptada ao alfabeto latino, converteria-se na língua mais falada no Leste da África. Portanto, vários povos e tribos, sobretudo do Quênia, Tanzânia e Uganda, chamam a girafa na língua suaíle de twiga.
A língua suaíli, o kiswahili, está entre as mais conhecidas e estudadas línguas do grupo banto, sendo utilizada como língua franca ou veicular na maior parte da África do leste e região central do continente.
É falada como primeira língua na faixa litorânea que se estende desde o sul da Somália, abrangendo todo o litoral do Quênia e da Tanzânia, até parte da região norte de Moçambique, incluindo-se aí as diversas ilhas que se situam no extremo oeste do Oceano Índico (Zanzibar, Pemba, Máfia, Lamu e Comores) e ainda áreas do extremo norte de Madagascar.
É utilizada como segunda língua por outros povos que não os waswahili. Praticamente toda população do interior da Tanzânia fala o kiswahili (graças a uma forte política lingüística), grande parte da população do interior do Quênia (nestes dois países o kiswahili possui o status de língua nacional, sendo que no primeiro é também a língua oficial) e de Uganda. É falada ainda, na parte leste da República Democrática do Congo, Ruanda e Burundi, na porção norte da Zâmbia (fronteiriça à Tanzânia e R.D. Congo), porção norte do Malawi e a região dos Lagos, áreas do extremo sul da Somália e extremo norte de Moçambique, como também áreas no extremo norte de Madagascar.
História
O período compreendido entre os séculos XII e XV da era cristã é particularmente interessante na história das ilhas e da costa oriental da África. Foi a época em que se formou na região uma comunidade étnica cuja melhor denominação seria população "swahili". Foi também a época em que atestou-se plenamente a existência de alguns Estados, cujos primeiros registros datam do século X da era cristã. Outro fato importante é que, nesse período, o desenvolvimento histórico e cultural da África oriental não sofreu qualquer influência externa perturbadora, enquanto o surgimento de conquistadores portugueses no começo do século XVI interrompeu o processo de desenvolvimento, modificando sensivelmente suas condições e características. Como o período também se caracteriza por grande desenvolvimento cultural, é razoável considerarmos que a civilização swahili estava então em seu apogeu, sobretudo se atentar os para a sua subseqüente decadência. No século XII, os Swahili não constituíam uma comunidade homogênea no plano étnico ou social. No plano étnico, sobre um fundo formado por um população de língua bantu, acrescentavam-se elementos do interior do continente e do exterior, tais como árabes, persas e indianos, provenientes da costa setentrional do mar da Arábia e do oceano Indico. No plano social, havia disparidades, na medida em que existia uma classe dirigente isolada e distinta da massa de homens livres. A estrutura formal da sociedade continuava fundamentada em clãs ou grupos étnicos, mas continha elementos de diferenciação por classes. Pois, embora considerados iguais aos outros, os membros da classe dirigente sobressaíam por serem ricos e porque suas funções tradicionais lhes conferiam influência especial. Ao lado da classe dirigente, encontravam-se outros indivíduos que eram ricos, mas não tinham acesso ao poder e à influência atribuída pela tradição, pois sua riqueza se originava do comércio. Gente comum formava a massa da população swahili. Além disso a sociedade swahili, no início do século XII, também incluía escravos, cuja existência é possível supor pela leitura dos autores árabes que descrevem sua exportação. Mas seu papel dentro da sociedade não é claro; pode ser que fossem exclusivamente objeto de um comércio inter- -regional. No fim do século XV, os escravos parecem ter tido função econômica, segundo o relato de um anônimo português que os descreve em atividades agrícolas em Kilwa. A civilização swahili reflete esse processo de diferenciação social; uma cultura tradicional, a do povo, distinguia-se de outra, a da classe dirigente. Mas, devido à falta de fontes, nossos conhecimentos sobre essa civilização são falhos.
A economia e os intercâmbios comerciais
A civilização swahili baseava-se em três atividades econômicas principais: a agricultura, a pesca marítima e o comércio.
A agricultura e a pesca
A agricultura - atividade da maior parte do povo - ao lado da pesca e da coleta de frutos do mar constituíam as fontes essenciais de subsistência da população. AI-Mas'üdi, autor do século X, enumera as seguintes culturas no país: banana, durra (variedade de sorgo), inhame (al-kalari), cóleo (da família da hortelã), coco. Outras fontes falam da cana-de-açúcar e do tamarindo. No século XV, o autor português anônimo citado conta que em Kilwa Kisiwani havia coco, laranjas, limões, várias leguminosas, cebolinha e ervas aromáticas, nozes de areca, várias espécies de ervilhas, milho (provavelmente durra ou sorgo). Também fala da pecuária (gado grande de chifres, ovelhas, cabras) e da cultura do algodão. Essas informações e a descoberta de fusos de terracota atestam a prática da fiação e da tecelagem. No plano agrícola, o coqueiro tinha papel especial para os habitantes da costa oriental da África e das ilhas.
A pesca e a coleta de frutos do mar eram tão importantes quanto a agricultura; são mencionadas pelos autores árabes, que aludem freqüentemente ao consumo de peixes, frutos do mar e moluscos pela população local. Mas o oceano não fornecia recursos apenas para a alimentação. Fontes árabes informam-nos sobre a coleta e a venda de pérolas, conchas, carapaças de tartarugas marinhas, âmbar. O peixe não só era consumido no local onde era pescado como também era vendido, o que leva a supor uma atividade pesqueira em grande escala. Sabe-se que as conchas eram utilizadas para a manufatura de pratos, colheres e colares. De modo geral, os relatos árabes falam dessas atividades em todo o litoral, sem maiores detalhes geográficos. No entanto, em sua descrição de algumas cidades, al-Idrisi faz da pesca a principal atividade de Malindi.
A pesca e a coleta de frutos do mar estarão estreitamente ligadas ao desenvolvimento da navegação em suas duas formas: por um lado, na arte da construção de navios e, por outro, no desenvolvimento das técnicas de navegação, em particular da astronomia. Um estudo dos conhecimentos astronômicos da época mostra, com efeito, que eles só puderam ser desenvolvidos por meio da navegação no oceano Indico; logo, há motivos para se acreditar que os navegadores africanos tenham dado sua contribuição nesse sentido. Pode-se supor que a construção de navios não se limitava à fabricação de mtumbwi (barcos talhados a machado) e de mitepe (almadias costuradas). O autor anônimo português viu no porto de Kilwa muitos navios grandes, cujas dimensões eram aproximadamente as de uma caravela de 50 toneladas; infeliz- mente, não indicou a quem pertenciam. A existência de diversas categorias de navios pode ser indiretamente deduzida do fato de haver, na língua kiswahili, grande variedade de termos para designar "navio" - o que indica, provavelmente, uma diferenciação específica, segundo a utilização que deles se fazia -, além do fato de existir grande número de tipos de embarcação até o início do século xx. Caso essa hipótese seja verdadeira, ela invalida a tese de que os habitantes da África oriental não praticavam o comércio marítimo no oceano Indico.
O comércio e o desenvolvimento da vida urbana
Os Swahili viviam em cabanas de troncos e barro, cobertas de folhas de palmeiras ou gramíneas. Essas cabanas se agrupavam em aldeias ou cidades. B provável que as fontes árabes se refiram a esse setor da população swahili, quando descrevem a caça ao leopardo ou ao lobo, a exploração de minério de ferro para a venda, a arte de enfeitiçar animais ferozes para torná-los inofensivos (por exemplo, para que não atacassem o homem), os cães ruivos utilizados na caça aos lobos e aos leões e um tambor enorme, semelhante a um barril, ao qual os Swahili devotavam um culto e cujo som era assustador. Mas a cultura da costa da África oriental não se resume a isso. Os árabes também nos informam a respeito de outro tipo de civilização existente no litoral: a civilização urbana, mais refinada e ligada ao desenvolvimento do comércio marítimo. As diferenças de nível cultural foram notadas por autores árabes, e Abu'l-Kãsin al-Andalusi indica que, nas populações como as da África oriental, só os habitantes das cidades "extasiam sua alma com o estudo da filosofia". Parece que as cidades constituíam-se essencialmente de cabanas, mas também devia haver construções em pedra, onde moravam os membros ricos e influentes da sociedade swahili. As cidades eram principalmente centros comerciais para onde afluíam mercadorias indígenas e onde aportavam navios estrangeiros. Eram também centros de propagação do Islã. Como as estimativas do valor das mercadorias eram variáveis, o comércio era extremamente lucrativo: não sendo produzidos na região, os bens importados eram objetos de luxo, e aos olhos do comprador adquiriam mais valor do que realmente tinham. Por outro lado, a abundância de produtos preciosos, como o ouro e o marfim, e a certeza de sempre se poder obtê-los faziam com que seu valor diminuísse. Além disso, a posição geográfica vantajosa - praticamente todo o litoral da África oriental faz parte da zona das monções - favorecia a navegação no oceano Indico e possibilitava a existência do comércio naquela parte do mundo. No século XII, supõe-se que as correntes comerciais da África oriental passassem pelo arquipélago Lamu e por Zanzibar. Escavações arqueológicas em Zanzibar mostram que o principal centro de comércio da área era a cidade de Manda, na ilha de mesmo nome, que floresceu nos séculos IX e X da era cristã e continuou ativa até o século XII ou mesmo XIII. Após esse período, a maior parte do comércio começou a passar por Kilwa. A riqueza e o brilho da cidade de Manda podem ser atestados pela grande quantidade de bens importados que lá foram descobertos: cerâmicas islamos-sassânidas, celadons de Hue e esgrafitos. Muitas delas, esmaltadas ou não, lembram as que foram descobertas nas escavações de Siraf. A descoberta de escórias de minério de ferro atesta a existência de fundições. No entanto, é difícil avaliar a importância dessas fundições apenas pelo testemunho arqueológico. Pode ser que as indicações de al-Idrisi a respeito da cidade de Malindi - "O ferro é seu principal recurso e principal objeto de comércio" - dissessem respeito a toda a região e que de Malindi se transportasse o ferro até Manda, cujo bem de exportação mais importante, fonte de riqueza da cidade, era o marfim. AI-Idrisi também descreve outras cidades do litoral e das ilhas, mencionando as seguintes: Marka (Merca), Brava, Malindi, Mombaça, Pangani (EI-Banas) e Ungudja (antigo nome de Zanzibar). Segundo uma nova identificação que parece convincente, a cidade situada após Pangani, com o nome de Butakhna, seria Kilwa. Isso permite supor que Kilwa já existia há algum tempo, mas que ainda não se tornara um dos grandes centros comerciais da costa. Fontes árabes mais antigas também citam Sofala, de onde era exportado o ouro. Comparando-se as informações, é possível localizar esses sítios na região de Kilwa. As pesquisas arqueológicas efetuadas em Kilwa Kisiwani mostram o quadro de uma vida comercial bastante ativa 10. Foram encontrados um grande número de cauris, usados como dinheiro, de cerâmicas de importação, do tipo esgrafito, com decorações incisas em amarelo com reflexos acobreados ou recobertas de esmalte verde-escuro, de objetos de vidro, e, em quantidade menor, contas de vidro, de cornalina e de quartzo, e louça de esteatita de Madagáscar. O principal produto de exportação era o ouro. Em meados do século XII, começou-se a importar da China porcelana song e, em menor quantidade, celadons.Os produtos de importação mais característicos de Gedi eram cerâmicas islamíticas "pretas e amarelas", esgrafitos com decorações incisas amarelas e verdes, e vários tipos de celadons. Gedi e Mogadíscio - que já devia existir - não são mencionadas nas fontes árabes. Malindi e Mombaça eram centros comerciais menos importantes de onde se exportava ferro e peles de leopardo; de Malindi também se exportava peixe.No começo do século XIII, Yãkut escreveu que Mogadíscio era uma das cidades mais importantes da África oriental e que seus habitantes eram árabes muçulmanos que viviam em comunidades. Na época, Mogadíscio exportava ébano e sândalo, âmbar cinzento e marfim. O autor também notou a miscigenação de sua população e mencionou igualmente a existência das cidades de Mtambi e Mkumbulu, na ilha de Pemba."Cada uma dessas cidades tem seu sultão, independente do vizinho. Na ilha há muitas aldeias e cidadezinhas. Seu sultão afirma que é árabe e. que seus ancestrais são originários de Kufa, de onde partiram para vir a esta ilha". Kilwa foi mencionada pela primeira vez com este nome na obra de Yãkut; Yãküt foi também o primeiro a falar da cidade de Mafia, que ele situa não numa ilha, mas no litoral, e da ilha de Tumbatu, em seu relato sobre Zanzibar (Landjuia-Ungudja). Segundo ele, Zanzibar teria sido um Estado independente, e a cidade de Ungudja, centro comercial freqüentado por navios; os habitantes de Tumbatu seriam muçulmanos.Nessa época, Kilwa e provavelmente a ilha de Mafia eram governadas pela Dinastia Shirazi. Em meados do século XIII, assistiu-se à luta entre Kilwa e o povo Shanga, que possivelmente era a população da ilha Sanjo ya-Kati. A causa provável do conflito era a rivalidade pelo domínio das correntes comerciais que passavam pela região. Como atesta a Crônica de Kilwa, esta cidade teria finalmente conseguido a vitória, o que aparentemente teve por conseqüência o desenvolvimento do comércio e da civilização swahili, que remonta ao início do século XIV e coincide com a ascensão ao poder, em Kilwa, de uma dinastia associada ao nome de Abü al-Mawãhib. Naquela época, Gedi continuava a negociar os mesmos produtos alimentícios; como no período precedente, os principais clientes tanto de Gedi quanto Manda eram as cidades persas, principalmente a de Siraf. O volume de mercadorias importadas por Kilwa aumentou sensivelmente. Entre elas encontrava-se grande quantidade de esgrafitos, geralmente verde-escuros, mais raramente amarelos com reflexos verdes; porcelanas chinesas da época song, entre as quais alguns celadons; objetos de vidro, principalmente garrafas e frascos, às vezes ornados com motivos em relevo, e que serviam, provavelmente, para conservar perfumes e quermes (khõl). Os objetos de vidro encontrados em Gedi se parecem, na forma e na decoração, com os encontrados nas escavações de Kilwa. São, principalmente em Gedi, em sua maioria, garrafas e frascos, provavelmente originários do Iraque ou do Irã. Importavam-se cada vez mais louça de esteatita e contas de vidro de Madagáscar, sobretudo três variedades de contas, ornadas com pequenas incisões, e, mais raramente, contas em forma de bastonetes.
O comércio parece ter alcançado o apogeu no século XIV. A fonte mais importante em língua árabe sobre esse período é a obra de Ibn Battuta, que visitou a África oriental em 1332. Ele descreveu Mogadíscio como grande centro comercial; explicou que era costume que o comerciante estrangeiro, ao chegar, procurasse entre os habitantes da cidade um agente de confiança, para tomar conta de seus negócios. Essa prática também é mencionada por Yãkut, mas ele não entra em muitos detalhes. Além dos produtos descritos por Yãkut, Mogadíscio também comerciava seus makdashi, ou seja, "tecidos de Mogadíscio". A rede comercial de Mogadíscio não era a mesma que a das cidades mais meridionais. Assim, os makdashi eram vendidos até no Egito, enquanto do Egito e de Jerusalém vinham outros tipos de tecido. As outras cidades da África oriental não mantinham relações com o Egito ou com a Síria.
No século XIV, Manda já havia perdido sua importância; a de Malindi, Mombaça e outras cidades continuava insignificante. De acordo com as pesquisas efetuadas por H. N. Chittick, foi somente nessa época que a cidade de Patta surgiu, na ilha de mesmo nome.
Os intercâmbios: centros, produtos, quantidade
No século XIV, Gedi começou a importar novos produtos: manteve até meados do século XIV a importação de esgrafitos, pouco a pouco substituídos por cerâmicas verde e azul de esmalte muito fino e brilhante, que aparentemente provinham do Irã. Também encontravam-se entre as mercadorias vários tipos de celadons, de porcelanas brancas e todos os tipos de contas: de barro vermelho, redondas ou alongadas, de cerâmica, de vidro, ornadas com pequenas incisões ou com forma de bastonete etc. O centro comercial mais importante era Kilwa, onde o volume de cerâmica importada tinha aumentado muito. Havia pouca cerâmica islamítica: as mais típicas eram vasos de má qualidade, com desenhos negros e esmalte amarelo-fosco, provavelmente fabricados em Aden, de onde eram importados. Durante a segunda metade do século XIV, apareceram cerâmicas islamíticas monocrômicas, de forma semi-esférica, borda arredondada, com o corpo esmaltado de verde-claro.
Importavam-se cada vez mais porcelanas da China, principalmente celadons, freqüentemente azulados. Encontrou-se grande número de celadons em forma de lótus. A porcelana de barro branco-azulado, de estilo antigo, era mais rara. No entanto, havia muitas cerâmicas chinesas verde-pálidas, com desenhos negros incisos sob o esmalte. Também era maior a quantidade de contas em forma de bastonete, comparada ao número daquelas com incisões; ao mesmo tempo, começaram a surgir contas alongadas azul-cobalto. Os vasos de esteatita deixaram de ser importados, embora, aparentemente, os objetos de vidro continuassem os mesmos. No século XV, encontravam-se em Gedi os mesmos objetos de importação do século precedente, ou seja, cerâmicas islamíticas verdes e brancas, recobertas de fino esmalte brilhante. Pela primeira vez apareceram porcelanas de barro branco-azuladas, cujos motivos são de um estilo característico da época ming, no século XV. A importação de contas de vidro apresentava praticamente as mesmas características do século precedente, mas não se importavam mais tantos objetos de vidro. Geralmente, considera-se o século XV em Kilwa como época de relativa decadência devido às lutas internas pelo poder entre as várias facções da camada superior da sociedade. As importações, porém, continuavam a aumentar, principalmente as de cerâmicas islamíticas monocrômicas, cuja qualidade havia melhorado um pouco. Sua cor ia do verde-azulado ao verde. Havia o dobro de porcelana chinesa que de cerâmica islamítica; aqui também os objetos de porcelana mais difundidos eram celadons e objetos de barro branco- -azulado. Também encontrava-se um grande número de recipientes de vidro, principalmente garrafas. Quanto às contas de vidro, eram quase todas vermelhas, em forma de bastonetes. Os produtos de exportação, como já dissemos, eram sobretudo o marfim e o ouro, além de escravos. (Ibn Battuta descreve razias cujo objetivo era capturar escravos), presas de rinocerontes, âmbar cinzento, pérolas, conchas e, nas regiões setentrionais, peles de leopardo. Outra mercadoria importante, que era em parte importada e, em parte, fabricada na região, eram os tecidos de algodão, que representavam, aparentemente, grande volume na massa de intercâmbios. Sabe-se que no século XV quantidades consideráveis de tecidos de algodão chegavam a Mombaça e a Kilwa, de onde eram reexpedidas para Sofala. Pode-se imaginar a importância dessa mercadoria pelo registro encontrado na Crônica de Kilwa de que a ilha de Kilwa fora comprada, e o preço havia sido uma quantidade de tecido correspondente ao seu perímetro. O comércio marítimo que ligava a costa da África oriental e as ilhas aos países da costa setentrional do oceano Indico favoreceu os contatos entre os habitantes dessas regiões, enriquecendo-os. Essas relações comerciais eram parte de um processo mundial. e constituíam um ramo da grande via comercial que ligava o Ocidente ao Oriente, onde os portos da África oriental não eram terminais, pois outra ramificação conduzia a Madagáscar. Sem dúvida, existia contato entre o litoral e os territórios auríferos do interior, próximos do lago Niassa; dali vinha o ouro que chegava a Kilwa. A partir do século XIV, algumas regiões auríferas de Sofala passaram para o domínio dos sultões de Kilwa, que começaram a nomear governadores para a região. A Antigüidade dos contatos é atestada por descobertas arqueológicas de objetos provenientes do litoral ou até de países não-africanos. G. Caton-Thompson já notara que as contas amarelo-limão descobertas nas escavações do Zimbábue eram parecidas com as contas de vidro encontradas em várias regiões da Índia no século VIII da era cristã. O vidro azul-claro e verde encontrado também no Zimbábue pode ter a mesma origem: parece muito com o vidro da Índia ou da Malásia.
Da mesma forma, o exame atento das cerâmicas locais de Gedi (classes 1 e 2) e sua semelhança com uma das variedades de cerâmica encontradas no Zimbábue permitiram a J. S. Kirkman concluir que existiam relações entre o litoral e os proprietários das minas de ouro no interior do continente. As regiões auríferas próximas do rio Zambeze, no interior do continente e no território da atual República de Zâmbia, foram sem dúvida as primeiras com as quais se estabeleceram relações comerciais, o que pode ser comprovado pela descoberta de cauris que eram trocados por ouro e marfim, em Gokomera e Kolomo.No atual território da República Unida da Tanzânia, na região de Engaruka, as escavações numa aldeia ligada ao comércio permitiram que se descobrisse o mesmo tipo de cauris e de contas de vidro (dos séculos XV e XVI) que as encontradas em Kilwa e outras cidades do litoral.Finalmente, al-Idrisi, no século XII, observou a existência do comércio de caravanas com as regiões do interior. "Como não tinham animais de carga, eles próprios transportavam as mercadorias. Carregavam-nas sobre a cabeça ou nas costas até duas cidades, Mombaça e Malindi, onde vendiam e compravam".
Os primeiros meios de troca utilizados nas relações comerciais foram principalmente os cauris, encontrados em todas as escavações, no litoral e no interior. Aparentemente as contas de vidro e, mais tarde, a porcelana da China também desempenharam esse papel. Nas regiões de comércio mais intenso apareceu um novo meio de troca, na forma de moeda metálica, cujos centros de fabricação parecem ter sido Kilwa e Mogadíscio. De acordo com as pesquisas de G. N. Chittick, as moedas de bronze e prata surgiram em Kilwa com o advento da Dinastia Shirazi, no final do século XII. Ao contrário das moedas de Kilwa, o único exemplar encontrado em Mogadíscio traz a data de 1332. As moedas encontradas no litoral não se distribuíam de forma eqüitativa ao longo da costa. G. S. P. Freeman-Grenville observa que nenhuma foi encontrada entre Mnarani e Kilwa Masoko, e atribui essa ausência à falta de pesquisas arqueológicas na área. Seja por esse motivo, seja por que não se cunhavam moedas e, assim, elas não eram utilizadas na região, o fato é que só foram encontradas nos grandes centros comerciais, em Kilwa Kisiwani e Kisimani Mafia, em Kwa na ilha Djwani, nas ilhas de Zanzibar e de Pemba, além de alguns exemplares no Quênia. A presença de moedas permite supor que o comércio local tenha se desenvolvido sensivelmente na costa e nas ilhas circunvizinhas, tomando necessária a adoção dessa forma de pagamento. As moedas deviam ter um valor de troca maior que o dos cauris, e sua introdução parece demonstrar a importância das operações comerciais. Essa hipótese é confirmada pelo fato de a mercadoria principal de Kilwa ser o ouro, cujo valor intrínseco era muito alto. Por outro lado, a abundância de ouro, considerado como mercadoria, devia ser obstáculo à sua transformação em meio de troca. As regiões onde foram encontradas moedas podem servir como indicação da extensão geográfica do comércio local. Além disso, é provável que a explicação para a ausência de informações sobre o local, a data de cunhagem e o valor nas moedas de Kilwa seja dada pelo fato de que, anteriormente, quando os pagamentos eram feitos em cauris, o que importava era o número de unidades. Grande fonte de lucros, o comércio foi a base da riqueza das cidades do litoral e do desenvolvimento social e cultural da sociedade swahili. Por sua própria natureza, permitiu contatos com várias civilizações, como a árabe, a persa e a indiana. Apesar da enorme quantidade de objetos provenientes da China encontrados nas escavações, este país não participou diretamente do comércio com a África antes do século XV. De acordo com as pesquisas recentes de V. A. Velgus, um dos especialistas mais competentes em fontes escritas chinesas, os navios chineses além de não alcançarem o golfo Pérsico, não ultrapassavam, a oeste e ao sul, as ilhas de Sumatra e Java; não chegavam, portanto, à costa da África oriental. As primeiras indicações da chegada de esquadras chinesas à costa da África oriental datam de 1417-1419 e de 1421-1422; eram comandadas por Cheng-Ho.
Língua Swahili
No século IX, fundaram cidades pela costa oeste da África, que deram lugar a uma civilização arábe-bantú, a qual desenvolveu um novo idioma: o KiSwahili – também chamado de Swahili.
Tal língua nasceu da mistura entre a gramática bantú (pertencente aos bantos ou povos bantu – povo de raça negra sul-africana) e o vocabulário árabe. Inicialmente, escrevia-se com caracteres arábicos.
A língua bantú tem origem na área da Nigéria e Camarões, na África Ocidental... segundo explicação de um selo alusivo ao Início da Hístória Sul-africana...
A palavra “Swahili” é uma derivação do plural “Sahel” – palavra árabe que significa costa. Bem mais tarde, adaptada ao alfabeto latino, converteria-se na língua mais falada no Leste da África. Portanto, vários povos e tribos, sobretudo do Quênia, Tanzânia e Uganda, chamam a girafa na língua suaíle de twiga.
A língua suaíli, o kiswahili, está entre as mais conhecidas e estudadas línguas do grupo banto, sendo utilizada como língua franca ou veicular na maior parte da África do leste e região central do continente.
É falada como primeira língua na faixa litorânea que se estende desde o sul da Somália, abrangendo todo o litoral do Quênia e da Tanzânia, até parte da região norte de Moçambique, incluindo-se aí as diversas ilhas que se situam no extremo oeste do Oceano Índico (Zanzibar, Pemba, Máfia, Lamu e Comores) e ainda áreas do extremo norte de Madagascar.
É utilizada como segunda língua por outros povos que não os waswahili. Praticamente toda população do interior da Tanzânia fala o kiswahili (graças a uma forte política lingüística), grande parte da população do interior do Quênia (nestes dois países o kiswahili possui o status de língua nacional, sendo que no primeiro é também a língua oficial) e de Uganda. É falada ainda, na parte leste da República Democrática do Congo, Ruanda e Burundi, na porção norte da Zâmbia (fronteiriça à Tanzânia e R.D. Congo), porção norte do Malawi e a região dos Lagos, áreas do extremo sul da Somália e extremo norte de Moçambique, como também áreas no extremo norte de Madagascar.
História
O período compreendido entre os séculos XII e XV da era cristã é particularmente interessante na história das ilhas e da costa oriental da África. Foi a época em que se formou na região uma comunidade étnica cuja melhor denominação seria população "swahili". Foi também a época em que atestou-se plenamente a existência de alguns Estados, cujos primeiros registros datam do século X da era cristã. Outro fato importante é que, nesse período, o desenvolvimento histórico e cultural da África oriental não sofreu qualquer influência externa perturbadora, enquanto o surgimento de conquistadores portugueses no começo do século XVI interrompeu o processo de desenvolvimento, modificando sensivelmente suas condições e características. Como o período também se caracteriza por grande desenvolvimento cultural, é razoável considerarmos que a civilização swahili estava então em seu apogeu, sobretudo se atentar os para a sua subseqüente decadência. No século XII, os Swahili não constituíam uma comunidade homogênea no plano étnico ou social. No plano étnico, sobre um fundo formado por um população de língua bantu, acrescentavam-se elementos do interior do continente e do exterior, tais como árabes, persas e indianos, provenientes da costa setentrional do mar da Arábia e do oceano Indico. No plano social, havia disparidades, na medida em que existia uma classe dirigente isolada e distinta da massa de homens livres. A estrutura formal da sociedade continuava fundamentada em clãs ou grupos étnicos, mas continha elementos de diferenciação por classes. Pois, embora considerados iguais aos outros, os membros da classe dirigente sobressaíam por serem ricos e porque suas funções tradicionais lhes conferiam influência especial. Ao lado da classe dirigente, encontravam-se outros indivíduos que eram ricos, mas não tinham acesso ao poder e à influência atribuída pela tradição, pois sua riqueza se originava do comércio. Gente comum formava a massa da população swahili. Além disso a sociedade swahili, no início do século XII, também incluía escravos, cuja existência é possível supor pela leitura dos autores árabes que descrevem sua exportação. Mas seu papel dentro da sociedade não é claro; pode ser que fossem exclusivamente objeto de um comércio inter- -regional. No fim do século XV, os escravos parecem ter tido função econômica, segundo o relato de um anônimo português que os descreve em atividades agrícolas em Kilwa. A civilização swahili reflete esse processo de diferenciação social; uma cultura tradicional, a do povo, distinguia-se de outra, a da classe dirigente. Mas, devido à falta de fontes, nossos conhecimentos sobre essa civilização são falhos.
A economia e os intercâmbios comerciais
A civilização swahili baseava-se em três atividades econômicas principais: a agricultura, a pesca marítima e o comércio.
A agricultura e a pesca
A agricultura - atividade da maior parte do povo - ao lado da pesca e da coleta de frutos do mar constituíam as fontes essenciais de subsistência da população. AI-Mas'üdi, autor do século X, enumera as seguintes culturas no país: banana, durra (variedade de sorgo), inhame (al-kalari), cóleo (da família da hortelã), coco. Outras fontes falam da cana-de-açúcar e do tamarindo. No século XV, o autor português anônimo citado conta que em Kilwa Kisiwani havia coco, laranjas, limões, várias leguminosas, cebolinha e ervas aromáticas, nozes de areca, várias espécies de ervilhas, milho (provavelmente durra ou sorgo). Também fala da pecuária (gado grande de chifres, ovelhas, cabras) e da cultura do algodão. Essas informações e a descoberta de fusos de terracota atestam a prática da fiação e da tecelagem. No plano agrícola, o coqueiro tinha papel especial para os habitantes da costa oriental da África e das ilhas.
A pesca e a coleta de frutos do mar eram tão importantes quanto a agricultura; são mencionadas pelos autores árabes, que aludem freqüentemente ao consumo de peixes, frutos do mar e moluscos pela população local. Mas o oceano não fornecia recursos apenas para a alimentação. Fontes árabes informam-nos sobre a coleta e a venda de pérolas, conchas, carapaças de tartarugas marinhas, âmbar. O peixe não só era consumido no local onde era pescado como também era vendido, o que leva a supor uma atividade pesqueira em grande escala. Sabe-se que as conchas eram utilizadas para a manufatura de pratos, colheres e colares. De modo geral, os relatos árabes falam dessas atividades em todo o litoral, sem maiores detalhes geográficos. No entanto, em sua descrição de algumas cidades, al-Idrisi faz da pesca a principal atividade de Malindi.
A pesca e a coleta de frutos do mar estarão estreitamente ligadas ao desenvolvimento da navegação em suas duas formas: por um lado, na arte da construção de navios e, por outro, no desenvolvimento das técnicas de navegação, em particular da astronomia. Um estudo dos conhecimentos astronômicos da época mostra, com efeito, que eles só puderam ser desenvolvidos por meio da navegação no oceano Indico; logo, há motivos para se acreditar que os navegadores africanos tenham dado sua contribuição nesse sentido. Pode-se supor que a construção de navios não se limitava à fabricação de mtumbwi (barcos talhados a machado) e de mitepe (almadias costuradas). O autor anônimo português viu no porto de Kilwa muitos navios grandes, cujas dimensões eram aproximadamente as de uma caravela de 50 toneladas; infeliz- mente, não indicou a quem pertenciam. A existência de diversas categorias de navios pode ser indiretamente deduzida do fato de haver, na língua kiswahili, grande variedade de termos para designar "navio" - o que indica, provavelmente, uma diferenciação específica, segundo a utilização que deles se fazia -, além do fato de existir grande número de tipos de embarcação até o início do século xx. Caso essa hipótese seja verdadeira, ela invalida a tese de que os habitantes da África oriental não praticavam o comércio marítimo no oceano Indico.
O comércio e o desenvolvimento da vida urbana
Os Swahili viviam em cabanas de troncos e barro, cobertas de folhas de palmeiras ou gramíneas. Essas cabanas se agrupavam em aldeias ou cidades. B provável que as fontes árabes se refiram a esse setor da população swahili, quando descrevem a caça ao leopardo ou ao lobo, a exploração de minério de ferro para a venda, a arte de enfeitiçar animais ferozes para torná-los inofensivos (por exemplo, para que não atacassem o homem), os cães ruivos utilizados na caça aos lobos e aos leões e um tambor enorme, semelhante a um barril, ao qual os Swahili devotavam um culto e cujo som era assustador. Mas a cultura da costa da África oriental não se resume a isso. Os árabes também nos informam a respeito de outro tipo de civilização existente no litoral: a civilização urbana, mais refinada e ligada ao desenvolvimento do comércio marítimo. As diferenças de nível cultural foram notadas por autores árabes, e Abu'l-Kãsin al-Andalusi indica que, nas populações como as da África oriental, só os habitantes das cidades "extasiam sua alma com o estudo da filosofia". Parece que as cidades constituíam-se essencialmente de cabanas, mas também devia haver construções em pedra, onde moravam os membros ricos e influentes da sociedade swahili. As cidades eram principalmente centros comerciais para onde afluíam mercadorias indígenas e onde aportavam navios estrangeiros. Eram também centros de propagação do Islã. Como as estimativas do valor das mercadorias eram variáveis, o comércio era extremamente lucrativo: não sendo produzidos na região, os bens importados eram objetos de luxo, e aos olhos do comprador adquiriam mais valor do que realmente tinham. Por outro lado, a abundância de produtos preciosos, como o ouro e o marfim, e a certeza de sempre se poder obtê-los faziam com que seu valor diminuísse. Além disso, a posição geográfica vantajosa - praticamente todo o litoral da África oriental faz parte da zona das monções - favorecia a navegação no oceano Indico e possibilitava a existência do comércio naquela parte do mundo. No século XII, supõe-se que as correntes comerciais da África oriental passassem pelo arquipélago Lamu e por Zanzibar. Escavações arqueológicas em Zanzibar mostram que o principal centro de comércio da área era a cidade de Manda, na ilha de mesmo nome, que floresceu nos séculos IX e X da era cristã e continuou ativa até o século XII ou mesmo XIII. Após esse período, a maior parte do comércio começou a passar por Kilwa. A riqueza e o brilho da cidade de Manda podem ser atestados pela grande quantidade de bens importados que lá foram descobertos: cerâmicas islamos-sassânidas, celadons de Hue e esgrafitos. Muitas delas, esmaltadas ou não, lembram as que foram descobertas nas escavações de Siraf. A descoberta de escórias de minério de ferro atesta a existência de fundições. No entanto, é difícil avaliar a importância dessas fundições apenas pelo testemunho arqueológico. Pode ser que as indicações de al-Idrisi a respeito da cidade de Malindi - "O ferro é seu principal recurso e principal objeto de comércio" - dissessem respeito a toda a região e que de Malindi se transportasse o ferro até Manda, cujo bem de exportação mais importante, fonte de riqueza da cidade, era o marfim. AI-Idrisi também descreve outras cidades do litoral e das ilhas, mencionando as seguintes: Marka (Merca), Brava, Malindi, Mombaça, Pangani (EI-Banas) e Ungudja (antigo nome de Zanzibar). Segundo uma nova identificação que parece convincente, a cidade situada após Pangani, com o nome de Butakhna, seria Kilwa. Isso permite supor que Kilwa já existia há algum tempo, mas que ainda não se tornara um dos grandes centros comerciais da costa. Fontes árabes mais antigas também citam Sofala, de onde era exportado o ouro. Comparando-se as informações, é possível localizar esses sítios na região de Kilwa. As pesquisas arqueológicas efetuadas em Kilwa Kisiwani mostram o quadro de uma vida comercial bastante ativa 10. Foram encontrados um grande número de cauris, usados como dinheiro, de cerâmicas de importação, do tipo esgrafito, com decorações incisas em amarelo com reflexos acobreados ou recobertas de esmalte verde-escuro, de objetos de vidro, e, em quantidade menor, contas de vidro, de cornalina e de quartzo, e louça de esteatita de Madagáscar. O principal produto de exportação era o ouro. Em meados do século XII, começou-se a importar da China porcelana song e, em menor quantidade, celadons.Os produtos de importação mais característicos de Gedi eram cerâmicas islamíticas "pretas e amarelas", esgrafitos com decorações incisas amarelas e verdes, e vários tipos de celadons. Gedi e Mogadíscio - que já devia existir - não são mencionadas nas fontes árabes. Malindi e Mombaça eram centros comerciais menos importantes de onde se exportava ferro e peles de leopardo; de Malindi também se exportava peixe.No começo do século XIII, Yãkut escreveu que Mogadíscio era uma das cidades mais importantes da África oriental e que seus habitantes eram árabes muçulmanos que viviam em comunidades. Na época, Mogadíscio exportava ébano e sândalo, âmbar cinzento e marfim. O autor também notou a miscigenação de sua população e mencionou igualmente a existência das cidades de Mtambi e Mkumbulu, na ilha de Pemba."Cada uma dessas cidades tem seu sultão, independente do vizinho. Na ilha há muitas aldeias e cidadezinhas. Seu sultão afirma que é árabe e. que seus ancestrais são originários de Kufa, de onde partiram para vir a esta ilha". Kilwa foi mencionada pela primeira vez com este nome na obra de Yãkut; Yãküt foi também o primeiro a falar da cidade de Mafia, que ele situa não numa ilha, mas no litoral, e da ilha de Tumbatu, em seu relato sobre Zanzibar (Landjuia-Ungudja). Segundo ele, Zanzibar teria sido um Estado independente, e a cidade de Ungudja, centro comercial freqüentado por navios; os habitantes de Tumbatu seriam muçulmanos.Nessa época, Kilwa e provavelmente a ilha de Mafia eram governadas pela Dinastia Shirazi. Em meados do século XIII, assistiu-se à luta entre Kilwa e o povo Shanga, que possivelmente era a população da ilha Sanjo ya-Kati. A causa provável do conflito era a rivalidade pelo domínio das correntes comerciais que passavam pela região. Como atesta a Crônica de Kilwa, esta cidade teria finalmente conseguido a vitória, o que aparentemente teve por conseqüência o desenvolvimento do comércio e da civilização swahili, que remonta ao início do século XIV e coincide com a ascensão ao poder, em Kilwa, de uma dinastia associada ao nome de Abü al-Mawãhib. Naquela época, Gedi continuava a negociar os mesmos produtos alimentícios; como no período precedente, os principais clientes tanto de Gedi quanto Manda eram as cidades persas, principalmente a de Siraf. O volume de mercadorias importadas por Kilwa aumentou sensivelmente. Entre elas encontrava-se grande quantidade de esgrafitos, geralmente verde-escuros, mais raramente amarelos com reflexos verdes; porcelanas chinesas da época song, entre as quais alguns celadons; objetos de vidro, principalmente garrafas e frascos, às vezes ornados com motivos em relevo, e que serviam, provavelmente, para conservar perfumes e quermes (khõl). Os objetos de vidro encontrados em Gedi se parecem, na forma e na decoração, com os encontrados nas escavações de Kilwa. São, principalmente em Gedi, em sua maioria, garrafas e frascos, provavelmente originários do Iraque ou do Irã. Importavam-se cada vez mais louça de esteatita e contas de vidro de Madagáscar, sobretudo três variedades de contas, ornadas com pequenas incisões, e, mais raramente, contas em forma de bastonetes.
O comércio parece ter alcançado o apogeu no século XIV. A fonte mais importante em língua árabe sobre esse período é a obra de Ibn Battuta, que visitou a África oriental em 1332. Ele descreveu Mogadíscio como grande centro comercial; explicou que era costume que o comerciante estrangeiro, ao chegar, procurasse entre os habitantes da cidade um agente de confiança, para tomar conta de seus negócios. Essa prática também é mencionada por Yãkut, mas ele não entra em muitos detalhes. Além dos produtos descritos por Yãkut, Mogadíscio também comerciava seus makdashi, ou seja, "tecidos de Mogadíscio". A rede comercial de Mogadíscio não era a mesma que a das cidades mais meridionais. Assim, os makdashi eram vendidos até no Egito, enquanto do Egito e de Jerusalém vinham outros tipos de tecido. As outras cidades da África oriental não mantinham relações com o Egito ou com a Síria.
No século XIV, Manda já havia perdido sua importância; a de Malindi, Mombaça e outras cidades continuava insignificante. De acordo com as pesquisas efetuadas por H. N. Chittick, foi somente nessa época que a cidade de Patta surgiu, na ilha de mesmo nome.
Os intercâmbios: centros, produtos, quantidade
No século XIV, Gedi começou a importar novos produtos: manteve até meados do século XIV a importação de esgrafitos, pouco a pouco substituídos por cerâmicas verde e azul de esmalte muito fino e brilhante, que aparentemente provinham do Irã. Também encontravam-se entre as mercadorias vários tipos de celadons, de porcelanas brancas e todos os tipos de contas: de barro vermelho, redondas ou alongadas, de cerâmica, de vidro, ornadas com pequenas incisões ou com forma de bastonete etc. O centro comercial mais importante era Kilwa, onde o volume de cerâmica importada tinha aumentado muito. Havia pouca cerâmica islamítica: as mais típicas eram vasos de má qualidade, com desenhos negros e esmalte amarelo-fosco, provavelmente fabricados em Aden, de onde eram importados. Durante a segunda metade do século XIV, apareceram cerâmicas islamíticas monocrômicas, de forma semi-esférica, borda arredondada, com o corpo esmaltado de verde-claro.
Importavam-se cada vez mais porcelanas da China, principalmente celadons, freqüentemente azulados. Encontrou-se grande número de celadons em forma de lótus. A porcelana de barro branco-azulado, de estilo antigo, era mais rara. No entanto, havia muitas cerâmicas chinesas verde-pálidas, com desenhos negros incisos sob o esmalte. Também era maior a quantidade de contas em forma de bastonete, comparada ao número daquelas com incisões; ao mesmo tempo, começaram a surgir contas alongadas azul-cobalto. Os vasos de esteatita deixaram de ser importados, embora, aparentemente, os objetos de vidro continuassem os mesmos. No século XV, encontravam-se em Gedi os mesmos objetos de importação do século precedente, ou seja, cerâmicas islamíticas verdes e brancas, recobertas de fino esmalte brilhante. Pela primeira vez apareceram porcelanas de barro branco-azuladas, cujos motivos são de um estilo característico da época ming, no século XV. A importação de contas de vidro apresentava praticamente as mesmas características do século precedente, mas não se importavam mais tantos objetos de vidro. Geralmente, considera-se o século XV em Kilwa como época de relativa decadência devido às lutas internas pelo poder entre as várias facções da camada superior da sociedade. As importações, porém, continuavam a aumentar, principalmente as de cerâmicas islamíticas monocrômicas, cuja qualidade havia melhorado um pouco. Sua cor ia do verde-azulado ao verde. Havia o dobro de porcelana chinesa que de cerâmica islamítica; aqui também os objetos de porcelana mais difundidos eram celadons e objetos de barro branco- -azulado. Também encontrava-se um grande número de recipientes de vidro, principalmente garrafas. Quanto às contas de vidro, eram quase todas vermelhas, em forma de bastonetes. Os produtos de exportação, como já dissemos, eram sobretudo o marfim e o ouro, além de escravos. (Ibn Battuta descreve razias cujo objetivo era capturar escravos), presas de rinocerontes, âmbar cinzento, pérolas, conchas e, nas regiões setentrionais, peles de leopardo. Outra mercadoria importante, que era em parte importada e, em parte, fabricada na região, eram os tecidos de algodão, que representavam, aparentemente, grande volume na massa de intercâmbios. Sabe-se que no século XV quantidades consideráveis de tecidos de algodão chegavam a Mombaça e a Kilwa, de onde eram reexpedidas para Sofala. Pode-se imaginar a importância dessa mercadoria pelo registro encontrado na Crônica de Kilwa de que a ilha de Kilwa fora comprada, e o preço havia sido uma quantidade de tecido correspondente ao seu perímetro. O comércio marítimo que ligava a costa da África oriental e as ilhas aos países da costa setentrional do oceano Indico favoreceu os contatos entre os habitantes dessas regiões, enriquecendo-os. Essas relações comerciais eram parte de um processo mundial. e constituíam um ramo da grande via comercial que ligava o Ocidente ao Oriente, onde os portos da África oriental não eram terminais, pois outra ramificação conduzia a Madagáscar. Sem dúvida, existia contato entre o litoral e os territórios auríferos do interior, próximos do lago Niassa; dali vinha o ouro que chegava a Kilwa. A partir do século XIV, algumas regiões auríferas de Sofala passaram para o domínio dos sultões de Kilwa, que começaram a nomear governadores para a região. A Antigüidade dos contatos é atestada por descobertas arqueológicas de objetos provenientes do litoral ou até de países não-africanos. G. Caton-Thompson já notara que as contas amarelo-limão descobertas nas escavações do Zimbábue eram parecidas com as contas de vidro encontradas em várias regiões da Índia no século VIII da era cristã. O vidro azul-claro e verde encontrado também no Zimbábue pode ter a mesma origem: parece muito com o vidro da Índia ou da Malásia.
Da mesma forma, o exame atento das cerâmicas locais de Gedi (classes 1 e 2) e sua semelhança com uma das variedades de cerâmica encontradas no Zimbábue permitiram a J. S. Kirkman concluir que existiam relações entre o litoral e os proprietários das minas de ouro no interior do continente. As regiões auríferas próximas do rio Zambeze, no interior do continente e no território da atual República de Zâmbia, foram sem dúvida as primeiras com as quais se estabeleceram relações comerciais, o que pode ser comprovado pela descoberta de cauris que eram trocados por ouro e marfim, em Gokomera e Kolomo.No atual território da República Unida da Tanzânia, na região de Engaruka, as escavações numa aldeia ligada ao comércio permitiram que se descobrisse o mesmo tipo de cauris e de contas de vidro (dos séculos XV e XVI) que as encontradas em Kilwa e outras cidades do litoral.Finalmente, al-Idrisi, no século XII, observou a existência do comércio de caravanas com as regiões do interior. "Como não tinham animais de carga, eles próprios transportavam as mercadorias. Carregavam-nas sobre a cabeça ou nas costas até duas cidades, Mombaça e Malindi, onde vendiam e compravam".
Os primeiros meios de troca utilizados nas relações comerciais foram principalmente os cauris, encontrados em todas as escavações, no litoral e no interior. Aparentemente as contas de vidro e, mais tarde, a porcelana da China também desempenharam esse papel. Nas regiões de comércio mais intenso apareceu um novo meio de troca, na forma de moeda metálica, cujos centros de fabricação parecem ter sido Kilwa e Mogadíscio. De acordo com as pesquisas de G. N. Chittick, as moedas de bronze e prata surgiram em Kilwa com o advento da Dinastia Shirazi, no final do século XII. Ao contrário das moedas de Kilwa, o único exemplar encontrado em Mogadíscio traz a data de 1332. As moedas encontradas no litoral não se distribuíam de forma eqüitativa ao longo da costa. G. S. P. Freeman-Grenville observa que nenhuma foi encontrada entre Mnarani e Kilwa Masoko, e atribui essa ausência à falta de pesquisas arqueológicas na área. Seja por esse motivo, seja por que não se cunhavam moedas e, assim, elas não eram utilizadas na região, o fato é que só foram encontradas nos grandes centros comerciais, em Kilwa Kisiwani e Kisimani Mafia, em Kwa na ilha Djwani, nas ilhas de Zanzibar e de Pemba, além de alguns exemplares no Quênia. A presença de moedas permite supor que o comércio local tenha se desenvolvido sensivelmente na costa e nas ilhas circunvizinhas, tomando necessária a adoção dessa forma de pagamento. As moedas deviam ter um valor de troca maior que o dos cauris, e sua introdução parece demonstrar a importância das operações comerciais. Essa hipótese é confirmada pelo fato de a mercadoria principal de Kilwa ser o ouro, cujo valor intrínseco era muito alto. Por outro lado, a abundância de ouro, considerado como mercadoria, devia ser obstáculo à sua transformação em meio de troca. As regiões onde foram encontradas moedas podem servir como indicação da extensão geográfica do comércio local. Além disso, é provável que a explicação para a ausência de informações sobre o local, a data de cunhagem e o valor nas moedas de Kilwa seja dada pelo fato de que, anteriormente, quando os pagamentos eram feitos em cauris, o que importava era o número de unidades. Grande fonte de lucros, o comércio foi a base da riqueza das cidades do litoral e do desenvolvimento social e cultural da sociedade swahili. Por sua própria natureza, permitiu contatos com várias civilizações, como a árabe, a persa e a indiana. Apesar da enorme quantidade de objetos provenientes da China encontrados nas escavações, este país não participou diretamente do comércio com a África antes do século XV. De acordo com as pesquisas recentes de V. A. Velgus, um dos especialistas mais competentes em fontes escritas chinesas, os navios chineses além de não alcançarem o golfo Pérsico, não ultrapassavam, a oeste e ao sul, as ilhas de Sumatra e Java; não chegavam, portanto, à costa da África oriental. As primeiras indicações da chegada de esquadras chinesas à costa da África oriental datam de 1417-1419 e de 1421-1422; eram comandadas por Cheng-Ho.
A Civilização Swahili (do século XIII ao século XV)
Esta riqueza e estes contatos influenciaram o desenvolvimento econômico, social e cultural da África oriental. Por um lado, as aldeias transformaram-se em cidades. Por outro, formou-se na sociedade swahili um grupo influente, que começou a competir pelo poder com a antiga nobreza, cujos domínios e influência eram associados a funções sociais tradicionais. Para reforçar sua posição, o novo grupo tinha necessidade de uma nova ideologia, o islamismo, conhecido através de contatos com árabes e persas. As circunstâncias históricas permitiram que o Islã se difundisse na África oriental, partindo do princípio que, em caso de necessidade, as pessoas adaptam suas necessidades a uma realidade estrangeira, porém já existente, antes de, analogamente, criar a sua própria. As condições concretas dessa difusão não são conhecidas; pode-se, no entanto, afirmar que o Islã não foi imposto à força, como durante a conquista árabe. Também não houve proselitismo em favor da religião muçulmana. É possível, então, pensar a conversão ao islamismo como voluntária, exprimindo a necessidade profunda da sociedade em adotar uma nova ideologia.
A penetração do Islã começou, aparentemente, entre o fim do século VII e o início do VIII. No século X, al-Mas'üdi mencionou a presença de muçulmanos, que falavam uma língua africana, na ilha de Kambala. Atribui-se a essa época a difusão do Islã pelas ilhas da costa da África oriental: no século XIII, a nova religião começou a se espalhar pelo próprio litoral. Era, evidentemente, diferente da religião muçulmana dos países árabes. Provavelmente, como demonstrou J. S. Trimingham a respeito de período mais recente, o que impor- tava, no início, era simplesmente ser considerado muçulmano, e esta religião coexistia com os cultos tradicionais. Este fato é por si mesmo muito importante, pois ilustra o enfraquecimento e o desaparecimento de velhos laços sociais, que cederam lugar a novos. Além disso, pode-se supor que o Islã também era traço de realce na diferenciação com os outros africanos não-muçulmanos. No início, o Islã marcava essencialmente as aparências, mas com o tempo sua influência tornou-se mais profunda, à medida que o número de adeptos aumentava. A prova externa destas mudanças foi o crescimento do número de mesquitas.
O progresso e difusão do Islã
O começo da expansão do Islã deve, sem dúvida, remontar às últimas décadas do século XII, e seu desenvolvimento ocorreu nos séculos XIV e XV. Assim, em 1331-1332, Ibn Battüta descreveu Mogadíscio como uma cidade bastante islamizada. Dos habitantes de Kilwa acrescentou ainda que "suas maiores qualidades são a fé e a justiça"; seu sultão recompensava os devotos e os nobres. Sabemos da existência de mesquitas nesta época em Mogadíscio, Gedi, Kaole, Kilwa, Sanjo Magoma etc. A conversão ao Islã representava, aparentemente, a passagem a uma nova etapa, inevitavelmente a outras formas de conduta e de vida. A manifestação concreta da mudança consistia na adoção de vestimentas, nomes e títulos muçulmanos. Este último ponto tinha importância particular na tomada de consciência dos novos laços sociais, embora tenha sido um processo gradual, que passou por uma fase de coexistência dos títulos antigos (africanos) e novos (muçulmanos) - por exemplo, o de mfalme e sultão -, resultando, por fim, no desaparecimento dos primeiros. Também é possível supor que, na prática, as prescrições e proibições do Islã não foram adotadas em sua totalidade, e que os costumes e ritos ligados aos cultos tradicionais perpetuaram-se.
Os primeiros a abraçar o islã foram, provavelmente, os ricos comerciantes, seguidos pela antiga nobreza e, finalmente, por certas camadas populares, ou seja, membros da comunidade que ambicionavam chegar ao nível de seus opulentos correligionários. A aparição e difusão do Islã levaram à adoção, nesta área da África, de traços de civilização aplicáveis ao contexto local. Dando crédito a Ibn Battüta, que menciona cádis em Mogadíscio e Kilwa, pode-se concluir que a sociedade swahili começou a aplicar alguns elementos, mas não todos, do sistema jurídico muçulmano. A introdução e a difusão do Islã num clima de intensas atividades comerciais explicam a utilização de muitos termos da língua árabe, principalmente no comércio, na religião e na justiça. Adotou-se para a língua kiswahili, pelas necessidades do comércio e da religião, para os registros dos ritos que deveriam ser observados, é para a codificação dos direitos e privilégios das diversas camadas da sociedade swahili, uma escrita baseada na grafia árabe. Como demonstrou V. M. Misiugin, é preciso saber kiswahili para ler a escrita, isto é, ela só pode ter sido criada pelos Swahili. A criação remontaria, segundo o próprio Misiugin, a um período entre o século X e o XIII.
Urbanismo e arquitetura
Esta riqueza e estes contatos influenciaram o desenvolvimento econômico, social e cultural da África oriental. Por um lado, as aldeias transformaram-se em cidades. Por outro, formou-se na sociedade swahili um grupo influente, que começou a competir pelo poder com a antiga nobreza, cujos domínios e influência eram associados a funções sociais tradicionais. Para reforçar sua posição, o novo grupo tinha necessidade de uma nova ideologia, o islamismo, conhecido através de contatos com árabes e persas. As circunstâncias históricas permitiram que o Islã se difundisse na África oriental, partindo do princípio que, em caso de necessidade, as pessoas adaptam suas necessidades a uma realidade estrangeira, porém já existente, antes de, analogamente, criar a sua própria. As condições concretas dessa difusão não são conhecidas; pode-se, no entanto, afirmar que o Islã não foi imposto à força, como durante a conquista árabe. Também não houve proselitismo em favor da religião muçulmana. É possível, então, pensar a conversão ao islamismo como voluntária, exprimindo a necessidade profunda da sociedade em adotar uma nova ideologia.
A penetração do Islã começou, aparentemente, entre o fim do século VII e o início do VIII. No século X, al-Mas'üdi mencionou a presença de muçulmanos, que falavam uma língua africana, na ilha de Kambala. Atribui-se a essa época a difusão do Islã pelas ilhas da costa da África oriental: no século XIII, a nova religião começou a se espalhar pelo próprio litoral. Era, evidentemente, diferente da religião muçulmana dos países árabes. Provavelmente, como demonstrou J. S. Trimingham a respeito de período mais recente, o que impor- tava, no início, era simplesmente ser considerado muçulmano, e esta religião coexistia com os cultos tradicionais. Este fato é por si mesmo muito importante, pois ilustra o enfraquecimento e o desaparecimento de velhos laços sociais, que cederam lugar a novos. Além disso, pode-se supor que o Islã também era traço de realce na diferenciação com os outros africanos não-muçulmanos. No início, o Islã marcava essencialmente as aparências, mas com o tempo sua influência tornou-se mais profunda, à medida que o número de adeptos aumentava. A prova externa destas mudanças foi o crescimento do número de mesquitas.
O progresso e difusão do Islã
O começo da expansão do Islã deve, sem dúvida, remontar às últimas décadas do século XII, e seu desenvolvimento ocorreu nos séculos XIV e XV. Assim, em 1331-1332, Ibn Battüta descreveu Mogadíscio como uma cidade bastante islamizada. Dos habitantes de Kilwa acrescentou ainda que "suas maiores qualidades são a fé e a justiça"; seu sultão recompensava os devotos e os nobres. Sabemos da existência de mesquitas nesta época em Mogadíscio, Gedi, Kaole, Kilwa, Sanjo Magoma etc. A conversão ao Islã representava, aparentemente, a passagem a uma nova etapa, inevitavelmente a outras formas de conduta e de vida. A manifestação concreta da mudança consistia na adoção de vestimentas, nomes e títulos muçulmanos. Este último ponto tinha importância particular na tomada de consciência dos novos laços sociais, embora tenha sido um processo gradual, que passou por uma fase de coexistência dos títulos antigos (africanos) e novos (muçulmanos) - por exemplo, o de mfalme e sultão -, resultando, por fim, no desaparecimento dos primeiros. Também é possível supor que, na prática, as prescrições e proibições do Islã não foram adotadas em sua totalidade, e que os costumes e ritos ligados aos cultos tradicionais perpetuaram-se.
Os primeiros a abraçar o islã foram, provavelmente, os ricos comerciantes, seguidos pela antiga nobreza e, finalmente, por certas camadas populares, ou seja, membros da comunidade que ambicionavam chegar ao nível de seus opulentos correligionários. A aparição e difusão do Islã levaram à adoção, nesta área da África, de traços de civilização aplicáveis ao contexto local. Dando crédito a Ibn Battüta, que menciona cádis em Mogadíscio e Kilwa, pode-se concluir que a sociedade swahili começou a aplicar alguns elementos, mas não todos, do sistema jurídico muçulmano. A introdução e a difusão do Islã num clima de intensas atividades comerciais explicam a utilização de muitos termos da língua árabe, principalmente no comércio, na religião e na justiça. Adotou-se para a língua kiswahili, pelas necessidades do comércio e da religião, para os registros dos ritos que deveriam ser observados, é para a codificação dos direitos e privilégios das diversas camadas da sociedade swahili, uma escrita baseada na grafia árabe. Como demonstrou V. M. Misiugin, é preciso saber kiswahili para ler a escrita, isto é, ela só pode ter sido criada pelos Swahili. A criação remontaria, segundo o próprio Misiugin, a um período entre o século X e o XIII.
Urbanismo e arquitetura
A Grande Mesquita de
Kilwa Kisiwani.
Outra conseqüência da difusão do Islã, além do surgimento de mesquitas no território swahili, foi o desenvolvimento das construções em pedra. As escavações dirigidas por J. S. Kirkman e G. N. Chittick permitem que comecemos a traçar um quadro geral da evolução da arquitetura nas ilhas e na costa da África oriental. Seu início remonta ao século XII em Gedi, Zanzibar e Kilwa. O primeiro período caracteriza-se por uma técnica de construção que consistia em assentar blocos de coral com argila vermelha. O único monumento da época, mencionado nas fontes escritas, é a grande mesquita de Kilwa, infelizmente reconstruída várias vezes, nada restando da obra original. Outro vestígio do século XII, que traz a data de 1107, é uma inscrição da mesquita de Kizimkazi em Zanzibar, que hoje orna uma mesquita do século XVIII. Do século XIII, conhecemos três mesquitas em Kisimani Mafia, a parte norte da grande mesquita de Kilwa, uma pequena mesquita na ilha de Sanjo ya Kati, dois minaretes próximos a Mogadíscio - um tem a data de 1238 -, e, no mihrãb da mesquita de Fakhr al-Din, há a indicação do ano de 1269. Houve poucas mudanças nas técnicas de construção em relação ao século anterior: grandes e de forma rudimentar, os blocos de coral, de 25 a 30 cm, eram fixados com cal obtida da calcinação do coral. No século XIV, Kilwa, principal centro comercial, passou por período de grande desenvolvimento na sua arquitetura. Começaram a utilizar pedras de tamanho mais ou menos idêntico, fixando-as com argamassa. Conseguia-se, assim, simplificar ainda mais a construção, apesar de sua qualidade ser natural- mente inferior à do século precedente. As pedras só eram talhadas com cuidado para o acabamento do mihrãb e esquadrias de portas e janelas. Surgiram novos elementos arquitetônicos: cúpulas esféricas ou pontudas, arcos semi-circulares, colunas de pedra, baixos-relevos ornamentais. No entanto, parece: que essas realizações limitaram-se a Kilwa; em outros locais, os tetos continuaram planos. O monumento mais notável da época é o palácio-fortaleza ou centro comercial - de Husuni Kubwa. A menção ao nome do sultão al-Hasan Ibn Sulaymãn II (1310-1333) levou G. N. Chittick a propor o século XIV como data de construção deste edifício, que serviu de modelo para a arquitetura das casas das camadas ricas da população. De modo geral, as habitações tinham face norte ou leste, com pátios adjacentes em frente. A morada comportava vários quartos longos e estreitos. A comprida parede do primeiro deles - provavelmente o vestíbulo - era contígua ao pátio, com uma porta de acesso.Os outros quartos eram paralelos ao primeiro. Seu número variava, mas geralmente havia uma peça principal após o vestíbulo e, em seguida, um dormitório. Nos fundos, à direita, situavam-se os banheiros, ao lado dos quais se encontravam instalações destinadas às abluções. Como não havia janelas, a não ser na fachada voltada para o pátio, os quartos interiores eram sempre escuros. Este tipo de moradia era comum em Gedi, Kisimani Mafia, Kaole e Kilwa. O conjunto de Husuni Kubwa compunha-se, em grande parte, de habitações deste tipo; o resto do terreno era ocupado aparentemente por uma piscina. Este monumento, único na arquitetura da África oriental, é verdadeira obra-prima, apesar de sua finalidade ainda não ter sido esclarecida. Outro monumento notável do século XIV é a grande mesquita de Kilwa, reconstruída nessa época.Durante o século XIV, Kilwa foi coberta de casas de pedra e tornou-se uma grande cidade, mostrando, incontestavelmente, sua crescente opulência. O desenvolvimento da construção prosseguiu na primeira metade do século XV, acompanhado por um aperfeiçoamento das técnicas. Derramava-se argamassa misturada a cascalho num molde, método utilizado até para a construção de cúpulas. As colunas, até então monolíticas, passaram a ser feitas de uma mistura de pedras e argamassa. Manteve-se o tipo básico de casa, que passou, por vezes, a mostrar um ou dois andares. Detalhe característico da época consistia em utilizar vasos esmaltados de porcelana da China ou da Pérsia no corpo da construção, para decorar abóbadas e cúpulas. A casa com uma mesquita dentro dos limites de Makutani é típica da arquitetura da época em Kilwa.No reinado do sultão Sulaymãn Ibn Muhammad al-Mãlik al-'Ãdil (1412-1442), a grande mesquita de Kilwa - uma das obras-primas da arquitetura swahili da África oriental - acabou de ser reconstruída, adquirindo seu aspecto atual. Muitas são as opiniões sobre esta arquitetura. G. S. P. Freeman-Grenville, por exemplo, partindo da semelhança entre a estrutura de certas construções de Kilwa (principalmente o palácio do século XVIII) e das casas comuns de taipa, conclui sobre a origem local, africana, das construções em pedra. Os arqueólogos J. S. Kirkman e G. N. Chittick supõem que os árabes e os persas estejam na origem desta evolução; observam, no entanto, que vários detalhes das construções são incompatíveis com as regras do Islã aplicadas nos países árabes. J. S. Kirkman descobriu na mesquita de Gedi motivos de decoração em forma de pontas de lança, inadmissível na Arábia ou no Irã. G. N. Chittick escreve que"no plano material, e mais especialmente na arquitetura, a população da costa desenvolveu uma civilização original em muitos aspectos, que podemos definir como 'proto-swahili'".
Esta opinião é próxima da de J. E. Sutton e P. S. Garlake:"Por sua estrutura e seu estilo de construção religiosa e civil, por suas técnicas de construção, com suas moldagens em pedra talhada e motivos de decoração, a arquitetura swahili conservou, ao longo dos séculos, tradições originais que a distinguem da dos árabes, persas e de outros países muçulmanos". Eles, no entanto, parecem querer enfatizar a origem não-africana desta arquitetura, seu caráter "não-criador", pois precisam que se trata mais "de obras de mestres pedreiros do que de arquitetos". Apesar de não dispormos da obra de Sutton e Garlake, gostaríamos de observar que o que aparentemente chamam de caráter "não-criador" poderia refletir o esforço consciente dessa arquitetura em adotar certos modelos; se considerarmos, por exemplo, a evolução das técnicas de construção, podemos constatar sua adaptação racional aos materiais da região, que se soube utilizar da melhor maneira possível.
De acordo com as fontes portuguesas, as ruas de Kilwa eram estreitas e ladeadas de casas de taipa, cobertas com ramos de palmeira. Nos bairros de casas de pedra, as ruas também eram estreitas e havia bancos de pedra ao longo das paredes das habitações. A construção mais importante da cidade era o palácio, que provavelmente tinha dois ou até mesmo três andares em algumas partes. As portas das edificações eram de madeira, assim como outros elementos decorativos, de madeira ricamente esculpida. Este tipo de decoração era bem comum em vários pontos do litoral, principalmente em Bagamoyo e Zanzibar. Duarte Barbosa sublinha o alto nível desta arte, o que leva a supor que sua origem recorra a séculos anteriores. Como se sabe, os portugueses se impressionaram com o aspecto das cidades, cujas construções em nada ficavam a dever às de Portugal, e com a riqueza de seus habitantes, a elegância das roupas, de seda ou de algodão, ricamente bordadas em ouro. As mulheres usavam brincos de pedras preciosas e, nos braços e tornozelos, correntinhas e braceletes de ouro e prata.
O alto nível de desenvolvimento da civilização swahili pode ser avaliado pela descoberta, nas escavações, de luminárias de terracota, presumivelmente usadas para iluminar as partes escuras das casas, o que leva a supor que as pessoas tinham o hábito de ler, escrever, fazer contas etc. Também se utilizavam velas. Compunham o mobiliário tapetes e esteiras e, às vezes, tamboretes e camas suntuosas com incrustrações de marfim, madrepérola, prata ou ouro. Na casa dos abastados encontrou-se cerâmica importada: faianças e porcelanas do Iraque, do Irã, da China e também do Egito e da Síria. A cerâmica local era utilizada em geral para a preparação de alimentos, e pela população mais pobre. No período entre os séculos XII e XV, havia dois tipos principais de cerâmica com muitas variantes quanto à forma e à decoração; vasos com base redonda ou pontuda, que se destinavam ao uso sobre o fogo; e vasos largos e pouco profundos, parecidos com tigelas ou pratos fundos, provavelmente utilizados para a alimentação.
As estruturas do poder
Centros de intercâmbio comercial e de difusão do Islã, as cidades swahili da África oriental eram também freqüentemente unidades administrativas, capitais de pequenos Estados dirigidos por dinastias muçulmanas locais. O melhor exemplo desses centros é Kilwa, bem conhecida como sede administrativa de uma dinastia, graças às duas versões de sua Crônica. Segundo esta fonte a dinastia - cujos membros não eram africanos, mas persas - era originária da cidade de Shiraz. Em quase todas as cidades da África oriental existem mitos semelhantes, mas permanece a questão sobre a origem da camada dirigente das cidades swahili, que constituía um grupo social rico e islamizado. A resposta a essa questão seria significativa para se poder determinar se a civilização swahili é africana ou se foi trazida à África por estrangeiros.
Do mito à realidade histórica
Atualmente há duas teorias a respeito de tal matéria. De acordo com a primeira, a civilização que se desenvolveu na costa da África oriental é obra de persas e árabes; eles teriam construído as cidades, introduzido o Islã, difundido sua própria cultura, que seria de nível superior à dos africanos; ou, ao menos, estariam na origem desta evolução, a que teriam dado o primeiro impulso. A população local se atribui papel passivo, então; os recém-chegados teriam se cercado de grande número de empregados domésticos, mulheres, protegidos etc., africanos e leriam sido assimilados mais ou menos rapidamente. Ao invés de se desenvolver, a herança cultural dos africanos teria, aos poucos, se degradado, de forma que, não fossem as contribuições do exterior, todo o desenrolar da história da África teria ocorrido em circuito fechado.
Elaborada no fim do século XIX por J. Strandes, esta teoria baseia-se na filosofia da história de Hegel, segundo a qual todos os povos do mundo se dividem entre os que exercem uma ação histórica, sendo capazes de criar, e os que, fora da história, passivos, incapazes de criar, esperam ser guiados pelos povos ativos. Esta concepção errônea pode ser encontrada, atualmente, com algumas variações, nos trabalhos de historiadores como J. Gray, G. Mathew, R. Oliver e G. S. P. Freeman-Grenville, ou nos de arqueólogos como J. S. Kirkman, para citar apenas nomes ligados à historiografia da África oriental. A outra concepção, desenvolvida no Ocidente pelo arqueólogo G. N. Chittick e na União Soviética por V. M. Misiugin, ainda é objeto de estudos complementares. Aproxima-se, aliás, do ponto de vista de historiadores africanos, como Joseph Ki-Zerbo e Cheikh Anta Diop. Baseia-se na hipótese de uma participação ativa e dirigente dos africanos em sua própria história. Afirma, fundamentando-se em pesquisas sérias e objetivas, que as dinastias dos principados urbanos são de origem incontestavelmente africana.
O sistema de transmissão de poder
V. M. Misiugin pesquisou a Crônica da cidade de Pate, demonstrando que lá existia, antes do advento da Dinastia Nabkhani, um Estado dirigido pelos Wapate, antiga aristocracia que gozava do privilégio do poder real e portava o título de mfalme. “Em virtude das regras jurídicas consagradas pela tradição para o título e a função de mfalme, a dinastia reinante de Pate devia conservar, como necessidade de sobrevivência, um sistema de divisão em grupos por grau de parentesco. Nesse sistema os homens do clã Wapate que portavam e transmitiam o título de mfalme pertenciam ao mesmo grupo de idade [à mesma geração] - o ndugu. Nestas condições, o título de mfalme era transmitido, não de um indivíduo para o outro, mas de uma geração a outra, ou seja, a todo o ndugu. Como os Wapate eram uma aristocracia fechada, o ndugu devia ser bastante restrito, mas contava alguns indivíduos. O título de mfalme não era vitalício; passava de um indivíduo a outro do ndugu, à medida que cada um atingia a maioridade. Um homem atingia formalmente a maioridade ao se casar. Em razão do caráter fechado do clã aristocrático, os homens casavam com mulheres do mesmo clã, que, por sua vez, faziam parte do ndugu da mesma geração. A transmissão do título de mfalme ocorria durante a cerimônia do casamento. De acordo com a tradição, todos os Wapate portavam, por certo tempo, o título de mfalme, que conferia o poder supremo. Os homens, então, deviam desempenhar as funções ligadas ao título, enquanto as mulheres eram depositárias deste poder. Assim, Sulaymãn, fundador da dinastia nabkhani, recebeu o título de príncipe, conforme a tradição, por ter esposado uma mulher al-Bataviyuni [Wapate]. O título de príncipe foi-lhe conferido, não porque sua esposa fosse filha do príncipe da época - o que era uma circunstância fortuita -, mas porque ela pertencia ao ndugu da geração seguinte".
Não se pode, no entanto, pela sobrevivência da regra do ndugu, concluir que a sociedade swahili permaneceu no estado clânico: "A regra do ndugu significa, originariamente, que, em determinada época, os Wapate, que tinham preponderância econômica sobre os outros clãs, reservaram para si um elemento do sistema de relações de parentesco, privando, no mesmo ato, os outros do direito ao poder supremo". Conseqüentemente, o advento de Sulaymãn, fundador da Dinastia Nabkhani, e o fato de ter chegado ao poder pelo casamento testemunham a Antigüidade da divisão social em classes entre as populações do litoral. No entanto Sulaymãn não pertencia ao grupo de príncipes Wapate; só era ligado ao clã por sua mulher, através da qual havia recebido o título. Dessa forma, o grupo de príncipes corria o risco de perder o direito ao título, já que pelo regulamento do ngudu, este deveria ser transmitido aos irmãos do marido, que poderiam não ser casados com mulheres wapate. A esposa do príncipe, que pertencia ao clã Wapate, tornava-se, então, depositária do direito abstrato ao título de príncipe, cuja função efetiva era desempenhada pelo marido. Assim, as origens do marido não tinham muita importância; o essencial era que se tornara parte do sistema existente, próprio do litoral africano e originariamente africano.
Tentamos aplicar estes princípios de pesquisa ao estudo da Crônica de Kilwa, e, ao que parece, a regra do ngudu também comandou o modo de transmissão do poder nesta cidade. Isso fica mais claro particularmente na passa- gem do primeiro capítulo, onde é mencionado Muhammad Ibn 'Ali, primeiro príncipe reinante, sucedido por seu terceiro irmão, Baskhãt Ibn 'Ali, e depois pelo filho deste último, 'Ali (Ibn Baskhãt), que, segundo a Crônica, se apropriou do poder em detrimento dos tios paternos, Sulaymãn, al-Hasan e Dãwüd. É clara a alusão à regra de sucessão, que foi transgredida: o poder não deveria ter sido entregue a 'Ali Ibn Baskhãt, mas sim aos tios.Indicação análoga pode ser encontrada no terceiro capítulo da Crônica, que trata dos respectivos direitos dos irmãos al-Hasan Ibn Sulaymãn al-Matün e Dãwud ao título de sultão. Dãwüd, nas funções de sultão, considerava-se representante do irmão durante sua ausência e reconhecia que deveria a ele se submeter, caso voltasse. Essa observação nos parece ainda mais interessante pelo fato de os dois irmãos pertencerem à dinastia Abu al-Mawãhib, originária do Iêmen e à qual se atribui o florescimento da civilização de Kilwa.
É também interessante observar que a Crônica de Kilwa (em sua variante swahili), como a Crônica de Pate, relata que o primeiro sultão da cidade era um persa que esposou a filha do chefe local. Pode-se concluir, pela adoção da regra do ngudu como modo de transmissão do poder, que a organização estatal nas cidades africanas era de origem local, assim como a regra do ndugu era uma instituição social de origem puramente africana. A ascensão ao poder através do casamento com a filha do chefe local não é fenômeno exclusivo de Pate e Kilwa; G. S. P. Freeman-Grenville cita em sua obra muitos outros casos idênticos. Parece, então, possível admitir a hipótese de que a mesma situação de Pate predominou em todo o litoral, sob o aparente domínio do Islã, de seus costumes e regras.
O Islã e a ideologia do poder
A influência do Islã estava ligada ao papel cada vez mais importante das camadas sociais swahili enriquecidas pelo comércio. A situação destas camadas sociais parece ter-se tornado tão boa que a velha aristocracia também tentou reforçar sua posição através do Islã, principalmente por alianças matrimoniais com muçulmanos ricos, que, por sua vez, para se igualarem aos aristocratas locais, tendiam a dizer-se de descendência árabe, às vezes até de famílias árabes ou persas célebres na história dos países muçulmanos.
"Assim, os antigos mitos swahili que narram a chegada de grupos muçulmanos, mais ou menos numerosos, às cidades da África oriental nos séculos VII e VIII e, depois, nos séculos IX e X, são substituídos pelos relatos da chegada, provenientes da Arábia e da Pérsia, dos fundadores das dinastias reinantes em muitas cidades swahili e da fundação destas cidades por árabes e persas". Tais mitos não são fenômenos isolados, podendo-se encontrar muitos deles no Kitãb al-Zanüdj, bem como em outras épocas e outros lugares, dentro e fora da África. Sem dúvida, em virtude de um mito do gênero, a dinastia etíope ainda hoje afirma descender do rei Salomão e da rainha de Sabá. No Sudão oriental, os povos africanos atribuem sua origem a "tribos" árabes que teriam surgido na África. A fundação do Estado do Kanem é atribuída a seu primeiro rei, Sefe, que a tradição identifica com o rei iemenita Sayf Dhu Yazan. A família dos Keita, que governa o Mali, remonta suas origens aos parentes do profeta Maomé. Até na Nigéria subsiste um mito segundo o qual os ancestrais dos Yoruba seriam cananeus vindos da Síria e da Palestina. Como se pode observar, esses mitos sempre atribuem a origem de povos inteiros, a fundação de Estados, a instalação de dinastias reinantes a estrangeiros de raça branca, que teriam chegado à África em épocas remotas, e nunca a fatores ou acontecimentos puramente africanos. Trata-se evidentemente de fenômeno de ordem geral que caracteriza, em alguns casos, as sociedades no momento em que se transformavam em sociedades de classes.Outra evidência indireta desse fenômeno é fornecida por pesquisadores, como A. H. J. Prins, que dá exemplos de grupos que se pretendem de origem árabe ou shirazi, quando não há dúvida sobre sua origem africana.
Conclusão
Parece que a civilização da África oriental, a civilização swahili, foi fruto do desenvolvimento comercial. O comércio, expandindo-se, permitiu seu crescimento e progresso; mas foi também seu ponto fraco, pois não estava ligado ao desenvolvimento das forças produtivas da região. Ao se estudar o nível de ocupação da população, constata-se que a sociedade swahili permaneceu no estágio de desenvolvimento das forças produtivas em que sem dúvida se encontrava antes da expansão de suas atividades comerciais, o que se evidencia pela raridade de utensílios de ferro ou outros metais exumados pelas escavações.
Quase todos os bens produzidos ou obtidos pela sociedade swahili - tanto os produtos de caça quanto o ouro ou o ferro - não se destinavam ao consumo interno, mas à exportação. Ora, o comércio por si só era insuficiente para assegurar a base dessa civilização e seu desenvolvimento. Bastava que as rotas comerciais fossem interditadas, os circuitos comerciais interrompidos para, com a ruína do comércio, essa civilização perder seus elementos fundamentais. Como se sabe, foi exatamente o que aconteceu com as cidades da África oriental.
Avalia-se serem várias as circunstâncias que contribuíram para a decadência da sociedade swahili. A invasão dos Zimba e, parece, a diminuição das chuvas, com a conseqüente modificação no regime das águas constituíram obstáculo ao desenvolvimento das cidades do litoral. Mas a causa principal da decadência, no nosso entender, foi a destruição do comércio marítimo pelos portugueses. Bem armados, equipados com artilharia e concebidos para a guerra marítima, os navios portugueses representavam uma força invencível. Sua constante presença na região sob o comando de Rui Lourenço Ravasco, a captura de vinte navios carregados de mercadorias, a destruição de numerosas embarcações da flotilha de Zanzibar, a pilhagem e destruição de cidades litorâneas da África oriental, principalmente de Kilwa, foram golpes dos quais o comércio marítimo da região jamais se recuperou e sob os quais também pereceu a civilização swahili.
O Império de Gana localizou-se na região
Sahelo-sudanesa. O Sahel é uma área entre o deserto do Saara e as florestas
tropicais. No século IV, o período em que se formaram os Estados Nacionais, era
uma área maior. Os soninquês, por exemplo, habitavam uma área saheliana que
hoje já foi tomada pelo deserto. Isso porque, há 10 mil anos, uma parte
relativamente pequena de deserto começou a se expandir e tomar as proporções
gigantescas que o Saara tem hoje.
A adoção do dromedário permitiu que os berberes se tornassem senhores do deserto no século III. Com este meio de locomoção, o deserto deixou de ser um "mar" que separava, para unir o Mediterrâneo à África. A partir de então, as comunidades ditas “cameleiras” reduziram à obediência ou à servidão, habitantes do oásis e passaram a ter no saque, na proteção das caravanas e no comércio novos meios de aquisição de riquezas. Os povos agrícolas (do Sahel e da savana) receberam os rebanhos dos pastores (do deserto e do Sahel) e, vale lembrar, é nesse encontro de culturas que surge a escravidão. Porque os povos agrícolas estavam acostumados a receberem os berberes com seus rebanhos que necessitavam de pastos nos meses de estio. Então se praticava o comércio, os pastores berberes entregavam cavalos, leite, sal, e recebiam cereais e outros produtos da terra. Só que quando os pastores ficavam tempos demais, raptavam mulheres, profanavam locais sagrados e o resultado desses conflitos eram, muitas vezes, pessoas feitas cativas pelos nômades.
O comércio transaariano foi um fator permissivo do desenvolvimento dos Estados Nacionais e da escravidão, visto que passaram a incorporar o saque às suas atividades econômicas, ou seja, o respeito entre nômades e sedentários já não existia mais, é possível que um desses grupos tenha se imposto como nobreza armada aos sedentários, acelerando o processo de escravidão política e criação de Estados. Mas, segundo Alberto Costa e Silva, é mais provável que pela pressão dos nômades sobre as terras dos agricultores, estes tenham reforçado suas estruturas de poder local para melhor resistir.
O Império de Gana surgiu por volta do século IV como Estado centralizado. As fronteiras ocidentais seguem a linha do rio Senegal; as orientais perto de Tombuctu; embaixo são delimitadas pelo rio Níger e acima pela linha de Tebferilla. Costuma-se dizer que a origem do Império Gana remonta aos soninquês. O soninquê é um povo que habitou o Saara Ocidental antes dessas áreas se desertificarem - antes de Cristo. Ki-Zerbo fala da hipótese descrita no Tarik al Fettach, que Gana teria sido originada por uma dinastia de príncipes brancos e que os soninquês teriam tomado o controle do Império quando de tanto se "cruzarem" uma dinastia puramente negra surgiu. Mas a hipótese é frágil por que fora escrita 12 séculos depois do acontecimento e serve mais do que outra coisa para dar prestígio para as famílias nobres depois da dominação islâmica. A origem com os soninquês é a que parece mais aceitável, pois eles teriam se fortalecido e se fechado para se defender de ataques.
Para tratar da organização política de Gana, é importante frisar alguns conceitos, como o de Estado, o qual, segundo o Dicionário Aurélio, seria um povo que ocupa determinado território, sendo dirigido por um governo próprio - a idéia de Estado estaria ligada à de nação soberana ou divisão territorial. O Império seria um governo com influência dominadora. Império, visto sob a perspectiva romana, estaria associado à expansão territorial. Reino, no Dicionário Aurélio, aparece como uma monarquia. Enquanto Monarquia seria uma forma de governo na qual o poder supremo é exercido por apenas um monarca.
Por não possuir vontade de se expandir territorialmente, não ter tentado unificar todos os povos dentro de seus domínios, de acordo com a visão romana não podemos considerar Gana um Império. Segundo Alberto Costa e Silva, era um reino por ter um soberano, um sistema monárquico, mas também um Estado, por possuir governo próprio. Havia uma esfera de influências, vários povos próximos à Gana não respondiam diretamente ao rei, mas lhe pagavam tributo. A soberania não era exercida sobre a terra, mas sobre os homens. O monarca não estava interessado em ampliar seu poder pela adição de novos territórios, mas em submeter números crescentes de grupos humanos que lhe pagassem tributo e pudessem fornecer soldados.
Quanto à sucessão ao trono, ela era matrilinear: era o filho da irmã do rei que lhe sucedia. Segundo Ki-Zerbo, o escritor árabe Al Bakri diz que era para assegurar que o sucessor fosse sempre de sangue real, já que seu filho poderia não ser realmente seu filho. Mas Ki-Zerbo também cita Cheik Anta Diop, para dizer que o sistema matrilinear foi prática comum aos povos africanos e ligada ao seu caráter agrícola e sedentário.
Estima-se que na segunda metade do século IX os azenegues tenham conquistado Audagoste, fato de extrema importância para compreender os motivos que levaram Gana ao seu apogeu. Os azenegues figuravam entre os berberes. Dividiam-se em grandes grupos e controlavam rotas comerciais. Enquanto isso, Audagoste era uma pequena cidade, segundo o Costa e Silva, fundada por volta do século sete. Apesar de recente, era um centro agrícola, artesanal e mercantil. Os azenegues conquistaram Audagoste na segunda metade do século nove. O grande chefe azenegue vivia no deserto e ia de vez em quando a Audagoste. Esta e Gana se completavam. Audagoste controlava o comércio de sal e a saída para o deserto e Gana o ouro e as trilhas para a savana e o cerrado. De acordo com Costa e Silva, no início do século XI os soniquês subiram até Audagoste e lá puseram seu rei. Assim, o poderio de Gana atingiu seu apogeu, com seu soberano dispondo de grandes forças militares.
Os arqueiros militares eram em torno de 40 mil durante o apogeu. Usavam arcos pequenos e flechas com bico de ferro. O alcance da arma era curto, mas os arqueiros eram temidos e decisivos nas batalhas. Uso de eqüinos segundo Costa e Silva, Al Bakri diz que os eqüinos de Gana eram pequenos. O desconhecimento da sela, do estribo e do freio reduzia o impacto do cavalo como animal de guerra. Mas não os excluía das batalhas, já que a montaria fornecia certa mobilidade. O cavalo aparecia como sinal de prestígio. É também provável a existência de tropas camaleiras, inclusive o uso do dromedário para a captura de escravos. A infantaria era a força básica do Exército de Gana, sendo mais de 100 mil soldados, a qual demonstra, portanto, a força militar alcançada pelo Império.
O cavalo, visto que era ligado à pompa do estado, era o transporte do soberano. O gana só montava a cavalo e percorria a cidade, duas vezes entre cada levantar e pôr-do-sol, acompanhado pelos grandes do reino. A comitiva era precedida por tambores e pífaros, sendo os tambores utilizados em rituais ligados à religião e à corte, como mais tarde seria comum em quase todos os desfiles reais por África. Parece certo que havia tambores especiais para cultos religiosos e cerimônias da corte. O gana estava vestido de túnica, assim como o herdeiro presuntivo. O gana e seus escravos, cavalos cerimoniais e cachorros andavam ornamentados com muito ouro. Aos súditos era vedado usar túnicas ou roupas que sofressem costura, apenas podiam usar longos cortes de tecido, quando as posses o permitiam. Ao verem o gana, jogavam areia sobre suas cabeças. Os muçulmanos aplaudiam o rei.
Quando morria o gana, erguia-se uma grande cabana de madeira para acolher seu corpo. Ali se colocavam suas vestes, suas armas, os objetos que usara para comer e beber, e comida e bebidas. Conduziam-se para dentro do que seria o túmulo os criados que tinham servido ao rei. Ki-Zerbo diz que isso era para prevenir que não ocorreriam envenenamentos. Vedava-se a porta. O povo jogava terra sobre a cabana, até que houvesse uma espécie de colina. Ao redor, cavava-se um fosso. Ao morto, eram oferecidos sacrifícios humanos e bebidas fermentadas.
O ouro era taxado em forma de tributos ao gana, para manter sua numerosa corte. O minério refinado era para o rei, já o ouro em pó era de quem encontrasse. A obtenção de ouro é um processo curioso. Passadas as cheias, cavavam-se poços quadrados, de uns 75m de lado, que raramente iam abaixo dos 20m. À medida que os poços desciam, suas paredes iam sendo reforçadas por vigas de madeira e nos lados uma grade de varas que servia também de escada por onde baixavam os mineiros. Cavavam-se túneis horizontais e mandavam em cabaças o minério para a superfície e este era catado pelas mulheres ao entardecer. São hipóteses levantadas de como se extrai atualmente.
O ouro viria ali ter não só de Bambuk e Buré, mas também de Lobi. E. Jenné poderia já ser então seu importante entreposto. Há uma hipótese mais simples: situando-se Bambuk dentro da forquilha formada pela confluência do Falemé com o Senegal, teria sido confundido com uma ilha. O sal, artigo raro, era permutado muitas vezes por igual peso de ouro, ou mesmo o dobro. As principais rotas utilizadas para o entreposto de sal e outras mercadorias do Magreb pelos lingotes de ouro eram: Gana a Sijilmessa, Tafaza, Audagoste e Tagante(azenegues). De Gana a Sijilmessa se atravessava durante dois meses desertos absolutos, pelos quais se podia marchar 14 dias sem encontrar água. A de maior fortuna teria sido a que passava por Tagaza, um centro onde se trocavam as mercadorias do Magreb pelo sal que se ia vender no Sudão. Já no Audagoste e no Tagante, as rotas eram controladas pelos azenegues, que se haviam convertido a um maometismo exigente e militante.
Os zanatas controlavam o comércio na cidade de Sijilmessa e também alguns entrepostos em Audagoste. Com o desejo de também ter por seu domínio estes entrepostoso, os Almorávidas se lançam cada vez mais ao sul do Marrocos e passam a ter um controle mais eficiente nos comerciantes zanatas de Audagoste.
Com o impasse que se seguia entre os azenegues do deserto, Abubacar se retira do Marrrocos e deixa no seu lugar Yusufe Ibne Tashfin, que era seu primo, e também sua mulher Zoinabe, de quem se divorcia. Passada a ruputura que afluía no deserto, Abubacar volta ao Marrocos, porém seu primo não lhe devolve o poder em partes.
Paralelo ao desmembramento em duas “facções”, a do norte e a do sul, ambas cada vez mais buscavam expandir seus domínios, o que acarretará mais adiante na morte de Abubacar em 1070, em uma homogênea ocupação Almorávida do ebro ao Sael, sob o comando de Yusufe.
As “tribos” azenegues estavam cada vez mais inerentes ao domínio almorávida que se concentrava no Marrocos. Desta maneira, o declínio começava a se assentar nas várias tribos azenegues que passaram a oferecer ataques repentinos aos “grandes senhores Almorávidas”.
Os almorávidas deixaram grande contribuição para a islamização de grande parte das populações do norte do Sudão Ocidental, sobretudo os soninquês que iriam se transformar em fervorosos catequistas, além de um rompimento com o equilíbrio entre a agricultura e a pecuária existentes no Sael, substituindo terras que eram cuidadosamente lavradas por campos de pastoreio e a conversão pelos azenegues a seu modo de vida de alguns núcleos que abandonaram a lavoura pela criação de gado e aderiram ao nomadismo. Com os rebanhos numerosos, cedo desertificaram o que então era o Sael e saelizaram o que então era savana. Certos reis e nobres sudaneses começaram a usar até mesmo o véu sobre o rosto, o litham.
Em 1203 ou 1204, os Sossos tomaram militarmente Gana e muitos mercadores soninquês emigraram para outras terras, especialmente para um lugarejos que crescerá com o nome de Ualata e se transformará no mais importante porto caravaneiro do Sudão Ocidental.
A adoção do dromedário permitiu que os berberes se tornassem senhores do deserto no século III. Com este meio de locomoção, o deserto deixou de ser um "mar" que separava, para unir o Mediterrâneo à África. A partir de então, as comunidades ditas “cameleiras” reduziram à obediência ou à servidão, habitantes do oásis e passaram a ter no saque, na proteção das caravanas e no comércio novos meios de aquisição de riquezas. Os povos agrícolas (do Sahel e da savana) receberam os rebanhos dos pastores (do deserto e do Sahel) e, vale lembrar, é nesse encontro de culturas que surge a escravidão. Porque os povos agrícolas estavam acostumados a receberem os berberes com seus rebanhos que necessitavam de pastos nos meses de estio. Então se praticava o comércio, os pastores berberes entregavam cavalos, leite, sal, e recebiam cereais e outros produtos da terra. Só que quando os pastores ficavam tempos demais, raptavam mulheres, profanavam locais sagrados e o resultado desses conflitos eram, muitas vezes, pessoas feitas cativas pelos nômades.
O comércio transaariano foi um fator permissivo do desenvolvimento dos Estados Nacionais e da escravidão, visto que passaram a incorporar o saque às suas atividades econômicas, ou seja, o respeito entre nômades e sedentários já não existia mais, é possível que um desses grupos tenha se imposto como nobreza armada aos sedentários, acelerando o processo de escravidão política e criação de Estados. Mas, segundo Alberto Costa e Silva, é mais provável que pela pressão dos nômades sobre as terras dos agricultores, estes tenham reforçado suas estruturas de poder local para melhor resistir.
O Império de Gana surgiu por volta do século IV como Estado centralizado. As fronteiras ocidentais seguem a linha do rio Senegal; as orientais perto de Tombuctu; embaixo são delimitadas pelo rio Níger e acima pela linha de Tebferilla. Costuma-se dizer que a origem do Império Gana remonta aos soninquês. O soninquê é um povo que habitou o Saara Ocidental antes dessas áreas se desertificarem - antes de Cristo. Ki-Zerbo fala da hipótese descrita no Tarik al Fettach, que Gana teria sido originada por uma dinastia de príncipes brancos e que os soninquês teriam tomado o controle do Império quando de tanto se "cruzarem" uma dinastia puramente negra surgiu. Mas a hipótese é frágil por que fora escrita 12 séculos depois do acontecimento e serve mais do que outra coisa para dar prestígio para as famílias nobres depois da dominação islâmica. A origem com os soninquês é a que parece mais aceitável, pois eles teriam se fortalecido e se fechado para se defender de ataques.
Para tratar da organização política de Gana, é importante frisar alguns conceitos, como o de Estado, o qual, segundo o Dicionário Aurélio, seria um povo que ocupa determinado território, sendo dirigido por um governo próprio - a idéia de Estado estaria ligada à de nação soberana ou divisão territorial. O Império seria um governo com influência dominadora. Império, visto sob a perspectiva romana, estaria associado à expansão territorial. Reino, no Dicionário Aurélio, aparece como uma monarquia. Enquanto Monarquia seria uma forma de governo na qual o poder supremo é exercido por apenas um monarca.
Por não possuir vontade de se expandir territorialmente, não ter tentado unificar todos os povos dentro de seus domínios, de acordo com a visão romana não podemos considerar Gana um Império. Segundo Alberto Costa e Silva, era um reino por ter um soberano, um sistema monárquico, mas também um Estado, por possuir governo próprio. Havia uma esfera de influências, vários povos próximos à Gana não respondiam diretamente ao rei, mas lhe pagavam tributo. A soberania não era exercida sobre a terra, mas sobre os homens. O monarca não estava interessado em ampliar seu poder pela adição de novos territórios, mas em submeter números crescentes de grupos humanos que lhe pagassem tributo e pudessem fornecer soldados.
Quanto à sucessão ao trono, ela era matrilinear: era o filho da irmã do rei que lhe sucedia. Segundo Ki-Zerbo, o escritor árabe Al Bakri diz que era para assegurar que o sucessor fosse sempre de sangue real, já que seu filho poderia não ser realmente seu filho. Mas Ki-Zerbo também cita Cheik Anta Diop, para dizer que o sistema matrilinear foi prática comum aos povos africanos e ligada ao seu caráter agrícola e sedentário.
Estima-se que na segunda metade do século IX os azenegues tenham conquistado Audagoste, fato de extrema importância para compreender os motivos que levaram Gana ao seu apogeu. Os azenegues figuravam entre os berberes. Dividiam-se em grandes grupos e controlavam rotas comerciais. Enquanto isso, Audagoste era uma pequena cidade, segundo o Costa e Silva, fundada por volta do século sete. Apesar de recente, era um centro agrícola, artesanal e mercantil. Os azenegues conquistaram Audagoste na segunda metade do século nove. O grande chefe azenegue vivia no deserto e ia de vez em quando a Audagoste. Esta e Gana se completavam. Audagoste controlava o comércio de sal e a saída para o deserto e Gana o ouro e as trilhas para a savana e o cerrado. De acordo com Costa e Silva, no início do século XI os soniquês subiram até Audagoste e lá puseram seu rei. Assim, o poderio de Gana atingiu seu apogeu, com seu soberano dispondo de grandes forças militares.
Os arqueiros militares eram em torno de 40 mil durante o apogeu. Usavam arcos pequenos e flechas com bico de ferro. O alcance da arma era curto, mas os arqueiros eram temidos e decisivos nas batalhas. Uso de eqüinos segundo Costa e Silva, Al Bakri diz que os eqüinos de Gana eram pequenos. O desconhecimento da sela, do estribo e do freio reduzia o impacto do cavalo como animal de guerra. Mas não os excluía das batalhas, já que a montaria fornecia certa mobilidade. O cavalo aparecia como sinal de prestígio. É também provável a existência de tropas camaleiras, inclusive o uso do dromedário para a captura de escravos. A infantaria era a força básica do Exército de Gana, sendo mais de 100 mil soldados, a qual demonstra, portanto, a força militar alcançada pelo Império.
O cavalo, visto que era ligado à pompa do estado, era o transporte do soberano. O gana só montava a cavalo e percorria a cidade, duas vezes entre cada levantar e pôr-do-sol, acompanhado pelos grandes do reino. A comitiva era precedida por tambores e pífaros, sendo os tambores utilizados em rituais ligados à religião e à corte, como mais tarde seria comum em quase todos os desfiles reais por África. Parece certo que havia tambores especiais para cultos religiosos e cerimônias da corte. O gana estava vestido de túnica, assim como o herdeiro presuntivo. O gana e seus escravos, cavalos cerimoniais e cachorros andavam ornamentados com muito ouro. Aos súditos era vedado usar túnicas ou roupas que sofressem costura, apenas podiam usar longos cortes de tecido, quando as posses o permitiam. Ao verem o gana, jogavam areia sobre suas cabeças. Os muçulmanos aplaudiam o rei.
Quando morria o gana, erguia-se uma grande cabana de madeira para acolher seu corpo. Ali se colocavam suas vestes, suas armas, os objetos que usara para comer e beber, e comida e bebidas. Conduziam-se para dentro do que seria o túmulo os criados que tinham servido ao rei. Ki-Zerbo diz que isso era para prevenir que não ocorreriam envenenamentos. Vedava-se a porta. O povo jogava terra sobre a cabana, até que houvesse uma espécie de colina. Ao redor, cavava-se um fosso. Ao morto, eram oferecidos sacrifícios humanos e bebidas fermentadas.
O ouro era taxado em forma de tributos ao gana, para manter sua numerosa corte. O minério refinado era para o rei, já o ouro em pó era de quem encontrasse. A obtenção de ouro é um processo curioso. Passadas as cheias, cavavam-se poços quadrados, de uns 75m de lado, que raramente iam abaixo dos 20m. À medida que os poços desciam, suas paredes iam sendo reforçadas por vigas de madeira e nos lados uma grade de varas que servia também de escada por onde baixavam os mineiros. Cavavam-se túneis horizontais e mandavam em cabaças o minério para a superfície e este era catado pelas mulheres ao entardecer. São hipóteses levantadas de como se extrai atualmente.
O ouro viria ali ter não só de Bambuk e Buré, mas também de Lobi. E. Jenné poderia já ser então seu importante entreposto. Há uma hipótese mais simples: situando-se Bambuk dentro da forquilha formada pela confluência do Falemé com o Senegal, teria sido confundido com uma ilha. O sal, artigo raro, era permutado muitas vezes por igual peso de ouro, ou mesmo o dobro. As principais rotas utilizadas para o entreposto de sal e outras mercadorias do Magreb pelos lingotes de ouro eram: Gana a Sijilmessa, Tafaza, Audagoste e Tagante(azenegues). De Gana a Sijilmessa se atravessava durante dois meses desertos absolutos, pelos quais se podia marchar 14 dias sem encontrar água. A de maior fortuna teria sido a que passava por Tagaza, um centro onde se trocavam as mercadorias do Magreb pelo sal que se ia vender no Sudão. Já no Audagoste e no Tagante, as rotas eram controladas pelos azenegues, que se haviam convertido a um maometismo exigente e militante.
Os zanatas controlavam o comércio na cidade de Sijilmessa e também alguns entrepostos em Audagoste. Com o desejo de também ter por seu domínio estes entrepostoso, os Almorávidas se lançam cada vez mais ao sul do Marrocos e passam a ter um controle mais eficiente nos comerciantes zanatas de Audagoste.
Com o impasse que se seguia entre os azenegues do deserto, Abubacar se retira do Marrrocos e deixa no seu lugar Yusufe Ibne Tashfin, que era seu primo, e também sua mulher Zoinabe, de quem se divorcia. Passada a ruputura que afluía no deserto, Abubacar volta ao Marrocos, porém seu primo não lhe devolve o poder em partes.
Paralelo ao desmembramento em duas “facções”, a do norte e a do sul, ambas cada vez mais buscavam expandir seus domínios, o que acarretará mais adiante na morte de Abubacar em 1070, em uma homogênea ocupação Almorávida do ebro ao Sael, sob o comando de Yusufe.
As “tribos” azenegues estavam cada vez mais inerentes ao domínio almorávida que se concentrava no Marrocos. Desta maneira, o declínio começava a se assentar nas várias tribos azenegues que passaram a oferecer ataques repentinos aos “grandes senhores Almorávidas”.
Os almorávidas deixaram grande contribuição para a islamização de grande parte das populações do norte do Sudão Ocidental, sobretudo os soninquês que iriam se transformar em fervorosos catequistas, além de um rompimento com o equilíbrio entre a agricultura e a pecuária existentes no Sael, substituindo terras que eram cuidadosamente lavradas por campos de pastoreio e a conversão pelos azenegues a seu modo de vida de alguns núcleos que abandonaram a lavoura pela criação de gado e aderiram ao nomadismo. Com os rebanhos numerosos, cedo desertificaram o que então era o Sael e saelizaram o que então era savana. Certos reis e nobres sudaneses começaram a usar até mesmo o véu sobre o rosto, o litham.
Em 1203 ou 1204, os Sossos tomaram militarmente Gana e muitos mercadores soninquês emigraram para outras terras, especialmente para um lugarejos que crescerá com o nome de Ualata e se transformará no mais importante porto caravaneiro do Sudão Ocidental.
Império Luba e os
Reinos de Lunda e Kazembe.
Os lubas ocupam áreas diferentes entre o alto Kasai e o lago Tanganica no Sul da República Democrática do Congo. As suas tradições falam de Kongolo como o chefe que os conduziu até à sua actual localização no início do séc. XVI. Ao chegar, venceu vários povos e fundou o que se designa como Primeiro Império.
Kongolo foi assassinado pelo seu sobrinho Kalala Ilunga, que se impôs a todos os rivais e alargou o seu poder, nos finais do mesmo século, às comarcas do Sudoeste. Constituiu, então, o chamado Segundo Império, que, porém, caiu em desgraça logo de seguida, desintegrando-se devido às lutas no seio da dinastia, aos assassínios e aos suicídios.
O ressurgimento dos lubas aconteceu durante o séc. XVIII através do rei Ngombo, que, nas suas campanhas bélicas, conquistou as margens do rio Tanganica. Todavia, seguiu-se um novo período de lutas internas e de divisões, que foi aproveitado por outros povos para os atacar. Com a chegada dos belgas, a Confederação Luba foi desfeita no séc. XIX.
População
O reino luba era composto pelos membros deste povo por linhagem direta, pelos povos subjugados nas guerras, os quais faziam um contrato com o rei, e pelos escravos. A realeza fundava-se no conceito de hulopwe, ou seja, numa qualidade sagrada que se trazia no sangue e que se transmitia pela linha masculina. Esta qualidade concedia ao monarca um direito divino, uma autoridade absolutista e poderes sobrenaturais.
Kongolo, o primeiro rei, é venerado como um semideus. É representado sob a forma de uma serpente pitão. Os lubas crêem, ainda, num deus criador, Da, que no princípio organizou todo o universo e depois desligou-se dele. Da mostra o seu poder e a sua potencia no arco-íris.
Banco Luba.
O conjunto das famílias formava a aldeia e, por sua vez, o conjunto destas constituía uma província. Todavia, esta estrutura sólida do “império luba” dificultava a manutenção da unidade entre as diferentes famílias e, consequentemente, debilitava a consolidação da nação. O que manteve o fulgor do império foi a língua e os aspectos culturais. O idioma dos lubas estendeu-se a toda a zona meridional da República Democrática do Congo e ao norte da Zâmbia. E o estilo artístico dos lubas influenciou outros povos que tiveram contacto com eles.
O poder político luba dependia da condição do rei. Se este mantinha o prestígio, os povos subjugados pagavam o tributo. Se, pelo contrário, a boa fama dele se debilitava, os povos lançavam-se na conquista da sua autonomia.
Em 1960, quando o Congo conseguiu a independência da Bélgica, o povo luba é confrontado com os movimentos internos também independentistas de Katanguenha e, sobretudo, de Kasai, em que o dirigente político Kalondji se autoproclamou imperador dos lubas. Estes dois movimentos foram anulados pela intervenção dos “capacetes-azuis” da ONU.
Artistas do cinzel
Os lubas são classificados como os mais hábeis mestres do cinzel. Eles esculpem uma das artes mais belas e harmoniosas de África. O seu sentido inato de estética não se circunscreve só ao mundo dos artistas e ao círculo dos cortesãos e nobres, mas a todas as categorias sociais.
Mulher Luba.
Trabalham basicamente a madeira e o tema preferido é a mulher, cujo rosto, traçado de forma suave, fluida e proporcionada, evoca um naturalismo idealizado
LOS CONGO O BAKONGO
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Pigmeos, un pueblo
olvidado
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Parque saqueado
El parque prohibido de Kahuzi-Biéga cobra cada
día mayor importancia. Hoy, los twa reivindican el derecho de caza en parte del
parque. Pero los bantúes carentes de tierras ambicionan también parte de este
territorio. La protección de la naturaleza es un concepto extraño que parece
absurdo para estos cultivadores empujados por la miseria y la superpoblación.
Por tanto, el Parque Nacional de Kahuzi-Biéga
no es el santuario de la Naturaleza que se pretendía. Este parque amparó a
numerosos refugiados ruandeses, los Hutus, entre los que se encuentran antiguos
interhamwe que se han ido convirtiendo progresivamente en simples bandidos.
“No se puede encontrar ningún refugiado
ruandés en los distritos. Se encuentran en la selva, ellos tienen los campos y
tienen hambre, atacan y saquean a los congoleses y matan a muchos de ellos.
Esta claro que si ellos regresan a Ruanda, serán considerados interhamwe
y serán abatidos” afirma un responsable twa en Bukavu.
Según este mismo responsable, 9000 personas
extraen clandestinamente de las entrañas del parque, el preciado coltán, un
mineral que contiene un metal, indispensable para la fabricación de los GSM. El
coltán es dirigido hacia Ruanda desde dónde se exporta hacia Europa.
El 16 de abril de 2001, un informe emitido por
la ONU, denunciaba la implicación de Sabena, Segem (filial de la Unión Minera)
y otras 11 sociedades belgas en este lucrativo comercio. Ruanda habría obtenido
con este tráfico 12 mil millones de francos belgas, encontrando de esta forma
el medio para financiar sus operaciones militares en la RDC. Enfrentada a este
embarazoso informe, Bélgica mantiene un completo silencio radiofónico.
La expulsión de sus territorios, el saqueo de
su subsuelo y el empobrecimiento no son las únicas preocupaciones de los
pigmeos. Aprovechándose del extremo desamparo de los twa, las sectas se
instalan en los poblados, aconsejando el abandono de la identidad cultural
pigmea y la oración como única solución. Mientras las etnias de Kivu, presas
también de dificultades económicas y políticas crecientes, se enfrentan en
combates homicidas.
Los Lindus (pueblo bantú forestal) utilizando
su influencia sobre los pigmeos los han adherido a su causa en el
enfrentamiento que mantienen con los Hémas (congoleños nilóticos). De este
modo, los pacíficos cazadores se encuentran entre dos fuegos en un conflicto
que no les concierne. Y en este anárquico contexto, las bandas armadas
arrebatan a las familias twa sus escasos bienes: herramientas, artesanía.
Universitario twa
Frente a la amplitud de sus problemas, los twa
tienen muy difícil reaccionar. Un universitario twa ha creado una organización
con base en Bukavu, el Programa de Integración y Desarrollo del Pueblo Pigmeo
(PIDP). Si esta organización realiza una buena labor de información a pesar de
las dificultades de comunicación existentes (nos encontramos en zona rebelde),
su representatividad está por probar, algunos de sus proyectos dan que pensar:
la creación de un museo y el desarrollo del turismo no parecen que vayan a ser
las soluciones a un país arrasado por la guerra. Las urgencias parecen ser
otras.
En espera de un hipotético giro de la
situación, las oportunidades de sobrevivir de los Twa parecen estar
peligrosamente amenazadas. Marginados, expoliados, desarraigados y en lo más
bajo de la escala socioeconómica, los twa ven a los pueblos dominantes de la
región y a los refugiados ruandeses disputarse lo que en otro tiempo fue su
paraíso de caza. ¿Hasta dónde llegará su facultad de adaptación y su
sorprendente capacidad de resistencia cultural?
Paul Lorsignol. 'Demain le monde', Bélgica,
octubre 2001. Traductora: Montserrat Sánchez, Centro de Información y
Documentación Africanas (CIDAF
O Império Mali foi um estado da
África Ocidental, perto do rio Níger, que dominou esta região nos séculos XIII
e XIV. De três impérios consecutivos, este foi o mais extenso territorialmente,
comparado com o de Songhai e do Gana.
Mapa do Império de
Mali (século XIV).
O antigo Reino de Gana, na África Ocidental, desapareceu em 1076 e aí ergueu-se o maior de todos os impérios medievais africanos, o Império Mali. Gana foi-se mantendo sob o governo dos berberes e dos muçulmanos até 1240 quando o rei do Mali, Sundiata Keita, acabou por conquistá-lo. Sundiata era um mandingo, um dos grupos de povos negros que ainda vivem no Mali dos nossos dias.
Depois de um período durante o qual o reino dos Mossinos, da região do Alto Volta, dominou parte do Mali e saqueou a sua capital, o Mali recuperou o seu poderio sob a chefia de Suleimã, que governou de cerca de 1341 a 1360.
Mansa Musa.
O império alcançou o auge no início do século XIV, durante o governo de Mansa Musa, que se converteu ao Islão. Em sua peregrinação a Meca, esse soberano fez-se acompanhar de uma comitiva com 15 mil servos, cem camelos e expressiva quantidade de ouro.
Em seu retorno, determinou a construção de escolas islâmicas na capital, a cidade de Tombuctu, que de próspero centro comercial, tornou-se também um centro de estudos religiosos.
O império controlava as rotas comerciais transaarianas da costa sul ao norte. Os principais produtos comercializados eram: ouro, sal, peixe, cobre, escravos, couro de animais, noz de cola e cavalos.
O Império Mali sucumbiu finalmente ante o assalto combinado das tribos tuaregues do Norte e dos Mossinos, do Sul, durante os anos de 1400.
O Império Monomotapa também chamado
Mwenemutapa, Muenemutapa, ou ainda Monomatapa(que era o título do seu chefe)
foi um império que floresceu entre os séculos XV e XVIII na região sul do rio
Zambeze, entre o planalto do Zimbabwe e o Oceano Índico, com extensões
provavelmente até ao rio Limpopo.
Mapa mostrando a
extensão do Império Monomotapa.
Este estado africano era extremamente poderoso, uma vez que controlava uma grande cadeia de minas e de metalurgia de ferro e ouro, cujos produtos eram muito procurados por mercadores doutras regiões do mundo.
É importante notar que, ao contrário dos soberanos de muitos reinos actuais ou recentes, os Mwenemutapas não formavam uma cadeia de descendentes - o sucessor de um Mwenemutapa falecido (ou deposto) era escolhido pelo conjunto dos seus conselheiros e dos chefes seus aliados, guiados por um ou mais "chefes espirituais" que interpretavam os "sinais" enviados pelos espíritos ancestrais da tribo.
Domínio português
Quando da exploração da costa oriental africana, desde Vasco da Gama, colheram os portugueses informes de que havia ouro em quantidade, vindo dum reino não-muçulmano. Tais informações foram confirmadas pelo espião Sancho de Tovar.
Numa primeira tentativa, os lusitanos procuraram cooptar a aristocracia, sem sucesso. Em 1567 travou-se a guerra que veio, enfim, a destruir tal organização. Contou, para tanto, com a ajuda do Rei de Malawi.
Esta conquista possibilitou a consolidação dos portugueses no território de Moçambique.
Segundo alguns o império Monomopata ficava em Mbiri, ao norte da atual cidade de Harare, no atual Zimbabwe.
História
O primeiro europeu a tomar contacto com a cidade de Grande Zimbabwe, capital de Monomotapa, teria sido o navegador e explorador Português Sancho de Tovar.
Este Estado africano possuía ricas minas de ouro. O ouro teria sido a razão pela qual os portugueses engendraram a conquista do território, empenhado pelos moradores em troca das mercadorias que estes ofereciam e, num primeiro momento, justificou a manutenção lusa no atual território moçambicano, a partir de Sofala.
As origens da dinastia governante remontam à primeira metade do século XV. De acordo com a tradição oral, o primeiro "mwene" foi príncipe guerreiro de um reino Shona ao sul, chamado Nyatsimba Mutota, enviado para encontrar novas fontes de sal, ao norte. O Príncipe Mutota encontrou o sal entre os Tavara, uma subdivisão do Shona, que eram notórios caçadores de elefantes. Foram então conquistados, e sua capital estabelecida a 358 km ao norte do Grande Zimbábue no Monte Fura pelo Zambezi.
Ndongo foi fundado no início
do século XVI, por um pequeno chefe Kimbundo que possivelmente, controlava o
comércio de ferro. Os primeiros ngolas, partindo da possível ligação com a arte
do ferro, estenderam a autoridade do Ndongo sobre diversos sobas. (Soba: do
quimbundo, senhor de um distrito) para terminarem, em meados do século XVI,
ocupando as terras compreendidas entre os rios Dande, Lucala e Cuanza.
Os ngolas foram obrigados a se submeteram os manikongos e pagarem impostos e rendiam a eles homenagens. A organização do estado Ndongo era parecida com a do Kongo, o estado Kimbundo só se tornou independente em l556, quando as tropas do ngola Inene, apoiadas por alguns portugueses, infligiram uma importante derrota ao manikongo. Este último, inspirado pelos portugueses, tentava uma aventura militar nos territórios do Ndongo.
Os ngolas foram obrigados a se submeteram os manikongos e pagarem impostos e rendiam a eles homenagens. A organização do estado Ndongo era parecida com a do Kongo, o estado Kimbundo só se tornou independente em l556, quando as tropas do ngola Inene, apoiadas por alguns portugueses, infligiram uma importante derrota ao manikongo. Este último, inspirado pelos portugueses, tentava uma aventura militar nos territórios do Ndongo.
Reino Ndongo por volta
de 1711.
Após a independência do reino do Ndondgo, o ngola, ouvindo os conselhos dos escravistas da ilha de São Tomé e sendo chefe de um estado totalmente soberano, enviou uma embaixada a Portugal para pedir contatos diretos com a Coroa. Era a melhor forma de garantir um fluxo sistemático dos produtos europeus, imprescindíveis a chefes políticos que assentavam parte do poder e prestígio sobre o controle do comércio de longa distância.
O nula Ndambi, que sucedeu o Inene e olhava com desconfiança os contatos com os europeus, recebeu, em l560, uma embaixada portuguesa comandada por um jovem e ambicioso nobre português, Paulo Dias de Novaes, e mais quatro jesuítas.
As relações entre a embaixada portuguesa e o ngola ruíram-se a tal ponto que o único jesuíta que continuava na região foi reduzido praticamente à escravidão e Paulo Novaes foi colocado sob residência forçada. O jovem português, em melhores condições com ngola, voltou à corte em l566, com um carregamento de escravos e de marfim. Em Portugal, Dias de Novaes convenceu o rei a conceder-lhe, como donatária, as terras defronte à ilha de Luanda e os territórios orientais que conquistasse. Ele voltou em l575 como proprietário exclusivo das terras do manikongo e do ngola.
O desembarque de Dias de Novaes não encontrou resistência. As terras, próximas ao reino de Ndongo, onde alguns portugueses já comerciavam com escravos, pertenciam ao distante reino do Kongo. Era nestas praias que os manikongos mandavam pescar os nzimbos, que serviam como moeda nacional no reino do Kongo. O ngola não se sentiu ameaçado. Mandou, no mesmo ano, uma delegação de boas-vindas ao nobre lusitano. O lusitano começou sua expansão a procura de preta e escravos. Invadiu terras do Ndongo.
O Senhor africano, após massacrar o comerciante português aliados de Dias de Novaes, que se encontravam na capital, reuniu suas tropas e atacou os lusitanos de Luanda. Uma longa e sanguinária guerra. Uma aliança entre Ndongo e Mtamba, um reino mais a leste permitiu vitórias importantes sobre os portugueses. A Aliança entre portugueses e os yagas (jagas) permitiu que aqueles fossem impondo sua soberania aos sobas e apoderando-se das terras do reino do Ndongo. Os resultados da guerra foram prejudiciais a todos os tipos de comércio, todo mundo corria perigo e nos primeiro anos do século XVII, os portugueses foram obrigados a abrirem uma conversa sobre a paz em Luanda, com os Kimbundos dos Ndongo. Ai apareceu à figura de Nzinga pela primeira vez na vida dos lusitanos, Nzinga Mbundi – rainha Ginga dos documentos da época – embaixadora plenipotenciária de seu tio, o ngola. A Africana mostrou-se esperta na arte da diplomacia e mais tarde nas artimanhas da guerra. Ela com habilidade conquistou na mesa de negociação quase tudo que o Ndongo havia perdido na guerra. Morrendo o ngola, ela quebrou as regras de sucessão e subiu ao poder. Exigiu então dos portugueses os que haviam sido acordados no tratado.
Os portugueses preocupados com a possível aliança entre holandeses e o manikongo, não deram importância às exigências de Nzinga, que de imediato, rearticulou uma poderosa frente de batalha composta de yagas, quimbares, cativos fugidos, kongos e até holandeses. Ocupou o reino de Mtamba e reforçou suas tropas. Os portugueses desesperaram. Os holandeses abandonaram Luanda. Portugal voltou às negociações.
Inúmeros historiadores apresentam Nzinga Mbundi como um exemplo de mulher combatente, no entanto é bom frisar que ela foi sempre um expoente de uma elite senhorial envolvida no tráfico escravista. Sua resistência visava manter o monopólio das rotas escravistas.
Nzinga Mbandi Ngola
Estabelecida à paz, Nzinga estreitou seus contatos com os negreiros portugueses. Convertida à monogamia (era casada com inúmeros esposos) e ao catolicismo como nome de Ana de Souza, guardou até a morte o poder e o prestígio que o comércio negreiro lhe assegurou.
O Reino do Congo
AFRICA LIVRE
seu programa de música, cultura e informações sobre as Áfricas
O Reino do Congo foi um grande Estado
africano localizado no centro oeste da África. Seu antigo território hoje
corresponde ao noroeste de Angola (Cabinda), à República do Congo, à parte
ocidental da República Democrática do Congo e à parte centro-sul do Gabão. Em
sua máxima dimensão, o Reino do Congo estendia-se do oceano Atlântico a oeste,
até o rio Cuango a leste; e do rio Oguwé, no actual Gabão, ao norte, até o rio
Kwanza ao sul. O Reino do Congo teve seu apogeu no século XVI, período que
coincidiu com o aparecimento dos portugueses nesta região. O império era
governado pelo manicongo, título do imperador.
Constituído por nove
províncias e três reinos (Ngoy, Kakongo e Loango), sua área de influência
estendia-se aos estados limítrofes, tais como, Kassanje, Kissama, Ndongo e
Matamba. Estes dois últimos estados foram, em diferentes momentos, sede do
poder da Rainha Nzinga. Ela foi uma famosa
lideránça política que, à sua forma, impediu que os portugueses realizassem a
conquista completa da região. O começo do fim do Reino do Congo ocorreu na
famosa Batalha de Mbwila. Onde forças congolesas e portuguesas, ambas
reforçadas por seus numerosos aliados, confrontaram-se estrepitosamente. Nesta
batalha, o regente congelês Antonio I foi mortalmente atingido, deixando vago o
trono. Tal vacância do trono produziu guerras intestinas pela sucessão. Estes
conflitos durariam décadas e fragmentaram irremediavelmente o poderoso Estado.
A Batalha de Mbwila, que ilustra o nosso podcast de hoje, ficou magistralmente
retratada nos azuleijos da Igraja de Nossa Senhora de Nazaré, em Luanda.
Primeiros Reis convertidos ao cristianismo
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Rei Nzinga-a-Nkuwu, João I (1509)
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Rei Mvemba-a-Nzinga, Afonso I (1509-1540)
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Rei Nkanga-a-Mvemba, Pedro I (1540-1544)
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Rei Mpudi-a-Nzinga Mvemba, Francisco I, (1544-1546)
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Rei Nkumbi Mpudi a Nzinga, Diogo I (1546-1561)
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Rei Mvemba-a-Nzinga, Afonso II (1561)
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Rei Mvemba- a-Nzinga, Bernardo I (1561-1567)
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Rei Mpudi-a-Mvemba Nzinga, Henrique I (1567-1568)
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Rei Mpangu-a-Nimi Lukeni lua Mvemba, Álvaro I (1568-1574)
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Rei Mpangu-a-Nimi Lukeni lua Mvemba, Álvaro II (1574-1614)
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Rei Mpangu-a-Nimi Lukeni lua Mvemba, Bernardo II (+1615)
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Rei Mbika-a-Mpangu Nimi Lukeni lua Mvemba, Álvaro III (1615-1622)
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Rei Nkanga-a-Mvika lua Ntumba-a-Mvemba, Pedro II Afonso
(1622-1624)
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Rei Mvemba-a-Nkanga Ntinu, Garcia I (1624-1626)
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Rei Mvemba-a-Nkanga Ntinu, Ambrósio I (1626-1631)
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Rei Mvemba-a-Nkanga Ntinu, Álvaro IV (1631-1636)
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Rei Mvemba-a-Nkanga Ntinu, Álvaro V (1636-1638)
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Rei Mvemba-a-Nkanga Ntinu, Álvaro VI (1638-1641)
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Rei Nkanga-a-Lukeni, Garcia II (1641-1661)
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Durante o período das lutas pelo poder
Em M'Banza Kongo (São Salvador do Congo)
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Rei Vita-a-Nkanga,
António I (1661-1665)
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Rei Mpangu-a-Nsundi,
Álvaro VII, (1666-1667)
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Rei Álvaro VIII (1667-1669)
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Rei Rafael I (1669-1675)
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Rei Mpangu-a-Miyala, Daniel I (1678-1680)
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Rei Nsaku-a-Mvemba, Pedro IV (1694-1710)
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Rei Mpangu, Pedro Constantino (+1710)
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Em Ki-Mpangu
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Rei Afonso III (1667-1669)
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Rei Nkanga-a-Mvemba, Garcia III (1669-1678)
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Rei Nlaza, André I (+1679)
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Rei Nimi-a-Mvemba, Álvaro IX (+1680)
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Rei Nzinga, Manuel I (+1680)
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Rei Nsaku-a-Mvemba, Pedro IV (1694-1710)
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Em Mbula
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Rei Nsuku-a-Ntamba, Pedro III (1667-1679)
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Rei Nsuku-a-Ntamba, João II (1679-1710)
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