O blogger de Felix Ramos

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sexta-feira, 12 de agosto de 2016

O Reino Lunda



O Reino de Lunda (1665-1887), também conhecido como Império Lunda, foi uma confederação africana pré-colonial de estados que florescente do século XV ao século XIX, onde são hoje a República Democrática do Congo, o nordeste de Angola e o noroeste da Zâmbia. O seu estado central ficava no atual Catanga.

O Reino Lunda, que no Séc.XVII chegou a ser um dos grandes potentados de Angola, foi fundado no início do Séc.XVI, no Leste de Angola, por Mwatiânvua e sua mulher Lukocheka.

Segundo a tradição lunda, Mwatiânvua era descendente de Lweji, filha de Kondo grande chefe lunda, que era casada com o grande caçador Luba Tyibinda Ilunga. Depois da morte de sua mãe, Muatiânvua, submeteu várias tribos lundas e formou um reino, nos finais do séc. XVI.

Embora fosse um reino só e coeso em todos os aspetos e sentidos, Mwatiâmvua governava a metade Norte e a Rainha Lukocheka reinava na metade Sul. Tinham poderes iguais, e as decisões que fossem concernentes ao Reino como um todo, eram baseadas no consenso dos dois, ajudados pelo conselho de séculos (velhos).



Foi um Reino economicamente muito forte, com agricultura muito bem estruturada, com milho, massango e massambala, trabalharam o ferro, o cobre e os tecidos, foram fortes no comércio de escravos, marfim e tecidos.

No Séc. XVIII, uma parte do povo decidiu migrar para a região do atual Moxico, dando origem ao povo Tchokwé ( Kiôco ). Foi o primeiro sinal de fragmentação do Reino Lunda, que talvez fruto do crescimento econômico, ou das facilidades de vida, dadas pela exuberância do solo, foram-se entregando mais aos prazeres da vida do que aos interesses do Reino.

Depois de lutas com os Tchokwé até ao fim do século XIX, os Tchokwé sublevaram-se definitivamente, forçando as barreiras de governantes lunda que os cercavam e expandiram-se rapidamente para norte e sul.

Há muitos séculos atrás os Lundas e tchokwes tinham sido um povo só. Saíram do mesmo núcleo, a grande diferença é que os Lunda ficam no seu território desde sempre, os tchocwe transformam-se num grupo de extrema mobilidade que a partir do século XVI percorre todo o país. São essencialmente caçadores e comerciantes saindo, por isso, em busca de marfim borracha, etc. Essa extrema mobilidade não lhes permite desenvolver estruturas políticas tão pesadas como era a hierarquia da Mussumba, por isso fazem aquilo que se chama a diáspora Tchokue, inflectem para o sul, dividem os Nganguela ao meio. Angola tem Tchokwe em todo o território. No final do século XIX os Tchokwe regressam ao seu território de origem, tomam, militarmente, o poder dos Lunda e absorveram as suas instituições.

Em 1885, ocorre a primeira invasão Tchokwé, que munidos de armas capturaram seis mil lundas, após Musumba, a capital do império, ter sido saqueada. Dois anos depois, em Janeiro de 1887, ocorre uma nova invasão Tchokwé. Musumba foi incendiada e os lunda ficaram sob domínio Tchokwé, até ao final do século XIX.

Os Tchokwé estabeleceram então o seu próprio reino com a sua língua e costumes. Os chefes lundas e o povo continuaram a viver na região lunda porém diminuidos de poder.

A expansão dos Tchokwé levou-os para além das fronteiras de Angola, encontrando-se grandes núcleos na República Democrática do Congo e na Zâmbia.
No início da era colonial (1884) o coração da terra lunda foi dividido entre a Angola portuguesa, o Estado Livre do Congo do rei Leopoldo II da Bélgica e o noroeste da britânica Rodésia, que viriam a tornar-se em Angola, R.C.Congo e Zâmbia, respectivamente.

Em 1908, o Estado Livre do Congo deixa de ser propriedade da Coroa e torna-se colónia da Bélgica, sob o nome de Congo Belga, permanecendo assim por quase 60 anos. Por sua vez, o Império Lunda – inicialmente repartido entre o reino Portugal e o Estado Livre do Congo –, encontrava-se, desde meados do século XIX, em decadência, já que “o poder do Mwant Yaav, em larga medida apoiado no comércio de escravos, acabou por ser afetado pela abolição deste tráfico”.

No início do século XX, após a expulsão dos Tchokwé que acabaram sendo vencidos pelas forças coloniais portuguesas, por volta de 1920, o Império Lunda já havia perdido alguns territórios e muito do seu poderio inicial. Diz-nos Manuela Palmeirim que “é decorrente deste contexto histórico que muitos grupos distintos a nível linguístico se encontram frequentemente designados na literatura como ‘povos lunda’, hoje grupos inteiramente autónomos mas que, outrora, partilharam uma unidade política comum sob a autoridade do Mwant Yaav e que reconhecem esta ligação através de um corpus de tradições orais. Podem ser referidos como “lunda” – para além do próprio grupo a partir do qual o império se originou e que ficariam conhecidos na literatura por ‘lunda do Mwant Yaav’ (os aruwund) – os ndembu (ou lunda-ndembu), os yaka, os luvale (também designados por lunda-baluvale ou lwena), os imbangala (reino de Kasanje), as gentes do Luapula sob o domínio do rei Kazembe (…



Os Lunda-Tchokwé são o grupo etnolinguístico predominante do nordeste de Angola, tendo-se estabelecido, em finais do século XIX, nas províncias administrativas da Lunda-Norte, Lunda-Sul e Moxico, mas estendendo-se, posteriormente, até ao interior da província da Huíla.

Na província da Lunda-Norte predominam o lunda, o cokwe (kioku), o mataba, o kakongo ou badimba e o mai. Na província da Lunda-Sul: o Tchokwé (kioku). Em uma parte da província do Moxico: o lunda-lua-shinde, o lunda, o ndembo e o Tchokwé (kioku). Noutra parte das províncias do Bié e do Kuando-Kubango: o cokwe (kioku).

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